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“Se o teu irmão te ofender”… não feches o coração

Como cristão, como me devo comportar perante um irmão que me ofendeu, que me magoou gravemente?

Ao escutar o evangelho de hoje, podemos partir desta pergunta pois a ela Jesus quer dar resposta. E para escutarmos de coração aberto e disponível o que o Senhor nos ensina a fazer, interiorizemos o refrão do salmo: “se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis o vosso coração”.
Deus quer fazer-nos santos como Ele é santo, e quer também que colaboremos com Ele na santificação dos outros. Um dos meios para ajudar à santificação dos outros é a correcção fraterna. É uma obrigação da caridade ajudar um irmão a reconhecer a sua falta, é obra de misericórdia corrigir os que erram. Mas, como fazer isso? A correcção fraterna pode ser feita em três etapas, se necessárias: sozinhos; com a ajuda de dois ou três irmãos; pela comunidade cristã.
Desde logo, há que evitar espalhar a ofensa. Tristemente, é o impulso inicial a que muitos cedem, e os cristãos não somos excepção: contar a nossa versão das coisas, com direito a assumir papel de vítimas e a causar má fama ao irmão, transportando para outros os maus sentimentos que em nós se geraram. Procedendo assim, nada mais fazemos do que acrescentar o nosso ao seu pecado. Humanamente e espiritualmente todos ficámos a perder.
Em primeiro lugar, portanto, há que ir ter com o irmão que nos ofendeu e falar com ele a sós. É atitude nobre não revelar a ofensa a outros. Esta delicadeza pode bem ser o segredo para vencer o orgulho e levar ao arrependimento. Então, “terás ganho o teu irmão”. E será uma vitória para ambos! Sabemos que o facto de nos sentirmos ofendidos e o excesso de amor próprio (doença que gera o egoísmo) torna difícil dar esse passo. Também nesse momento é preciso não deixar o coração fechar-se à voz do Senhor e ter presente que, para O seguir, é preciso renunciar a si mesmo.
Se esta primeira etapa não tiver sido suficiente, então “toma contigo mais uma ou duas pessoas”, prossegue Jesus. Buscar o conselho e a ajuda de uma pessoa prudente que nos possa auxiliar na prática da correcção fraterna. Talvez um amigo comum, alguém de confiança e discreto. A amizade verdadeira exige generosidade para dizer as verdades que doem e humildade para aceitar uma correção.  
Se esta segunda etapa se revelar infrutífera, então “comunica o caso à Igreja”, à comunidade cristã, isto é, alarga o leque de pessoas que te possam ajudar a ganhar o irmão. Facilmente percebemos que este recurso à comunidade só fará sentido em coisas muito graves e não podemos simplesmente transpor uma prática do tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs para uma cultura e um tempo tão diversos como os nossos.
Em todo este processo que Jesus descreve, fica claro o espírito cristão que deve animar o nosso comportamento diante da ofensa de um irmão. Que actue sozinho, com a ajuda de alguém ou até da comunidade, o importante é estar animado pela vontade de salvar e não de condenar, de ajudar a levantar quem caiu e não de empurrar para baixo com o peso da nossa maledicência.
Escrevendo aos cristãos de Roma, S. Paulo, na segunda leitura, recorda-lhes que “a caridade é o pleno cumprimento da lei”. Sempre que dois ou três cristãos se unirem não para falar mal do próximo mas para, juntos, exercitarem a caridade pela prática da correcção fraterna e da oração, Jesus promete estar no meio deles e o Pai concederá o que, em seu nome, Lhe tiverem pedido.

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