Pedro é capaz do melhor e do pior. Ouvimo-lo afirmar que Jesus é “o Messias, o Filho de Deus vivo”,
merecendo de Jesus um elogio e a atribuição da missão de guia e fundamento da Igreja: “Tu és Pedro; sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Hoje, ao contrário, vemo-lo a opor-se a Jesus e ao seu plano, instrumento de Satanás, a ser não a pedra que edifica mas aquela que faz tropeçar, “ocasião de escândalo”.
Jesus é, verdadeiramente, Messias e Filho de Deus. Sobre esta certeza foi edificada a fé da Igreja. Mas o termo Messias é ambíguo, pode gerar confusão. Jesus é o Messias que o povo de Israel sempre esperou, mas de um género totalmente inesperado. Pedro, como a maioria dos judeus do seu tempo, esperava um Messias humano, forte e poderoso, talvez um herói guerreiro, capaz de mudar o rumo da história pela força. Por isso, era tão difícil compreender que Jesus, sendo Messias, se mostrasse manso e humilde de coração, ensinasse o perdão e o amor aos inimigos e que, além do mais, viesse agora anunciar que iria sofrer muito, ser morto e ao terceiro dia ressuscitar.
Por tudo isto, Pedro reage: “Deus Te livre de tal, Senhor! Isso não há-de acontecer!” Não só pensa à maneira dos homens como quer obrigar Jesus a pensar como Ele e, comportando-se como adversário e não como seu discípulo, é instrumento de Satanás. Uma coisa é afirmar que Jesus é o Messias e o Filho de Deus, outra coisa bem diferente é aceitar o seu caminho, o seu estilo de vida, as suas opções e os seus planos.
Ser cristão não consiste apenas em acreditar que Jesus é o Messias esperado e o Filho de Deus. É também acreditar no incrível: que o Filho de Deus, por amor aos homens e para os salvar, abraçou a cruz, voluntariamente se entregou à morte e, ressuscitando, abriu-nos as portas da eternidade. Ser cristão, discípulo de Jesus, implica ainda viver como Ele, entregar-se incondicionalmente ao projecto de Deus para a nossa vida e seguir os seus passos: “se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me”.
A dificuldade de Pedro não está em afirmar que Jesus é o Messias e o Filho de Deus. A dificuldade está em aceitar que Jesus fosse um Messias disposto a carregar a cruz, a morrer e a renunciar à própria vida. E mais ainda, que viesse dizer que para O seguir era preciso fazer o mesmo. Esta é a real dificuldade. De Pedro e nossa.
Para acreditar em Jesus e no seu projecto de vida, para aderir às propostas do Evangelho, é preciso mudar de mentalidade. Percebemos bem porque S. Paulo nos diz na epístola aos romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, pela renovação espiritual da vossa mente”. Cristãos conformados com este mundo, que vivem de acordo com os mesmos critérios da sociedade e pensam do mesmo modo, sem se deixarem verdadeiramente transformar pelo Espírito de Cristo, são, como Pedro opondo-se a Jesus, instrumento de Satanás.
O chamamento de Jesus a segui-l’O não deixa espaço para pensar naquilo que me é mais conveniente, que me dá mais gozo e menos chatices. Ser discípulo de Jesus é querer fazer em cada momento o que é certo, o que agrada a Deus, o que é perfeito, sem olhar ao que isso custa, a que renúncias e privações obriga, que riscos acarreta.
Fé verdadeira significa obediência. Obediência à vontade de Deus mesmo que isso signifique dar sepultura à própria vontade, renunciar a si mesmo. Até fazermos nosso o segredo de Paulo: “Fui crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim”.