“RECEBEI O ESPÍRITO SANTO”, SENHOR QUE DÁ A VIDA
Na Missa do Domingo de Pentecostes, dirigindo-se ao Pai, a Igreja reza dizendo: “Hoje manifestastes a plenitude do mistério Pascal e sobre os filhos de adopção derramastes o Espírito Santo”. A Igreja reza assim por acreditar que o Mistério da morte e ressurreição de Jesus permaneceria incompleto sem a vinda do Espírito, incompreensível e inacessível para nós, filhos de adopção. Por isso o tempo pascal culmina no Pentecostes. E o Pentecostes repete-se em cada tempo e em cada lugar: “Hoje manifestastes… Hoje derramastes…”
A passagem do acontecimento da Páscoa ao testemunho e anúncio da mesma, é contado por S. Lucas no fim do seu primeiro livro, o evangelho, e no início do segundo, os Actos dos Apóstolos. Com isso, S. Lucas descreve como que quatro etapas que todo o cristão precisa de cumprir: em primeiro lugar, partimos da fonte da nossa vida cristã, a Páscoa; depois, no episódio dos dois discípulos de Emaús, a purificação da nossa inteligência e memória, do nosso olhar e da nossa vontade; em seguida, o Pentecostes, ou seja, a necessidade de nos revestirmos da força do Espírito Santo e de vivermos em comunhão (sem que as línguas, ou a língua… nos dividam); por fim, o testemunho, a missão.
O acontecimento do Pentecostes, com o acolhimento do dom do Espírito Santo, é narrado depois da ressurreição e antes da missão confiada aos apóstolos. Não para nos dizer que um acontecimento se sucede a outro, mas sobretudo que uma coisa não faz sentido sem a outra. A verdade essencial a reter e viver é que um cristão, tendo a certeza que Jesus venceu o pecado e a morte, não pode disso ser arauto e testemunha sem a presença e a acção do Espírito Santo. Ninguém pode ser cristão senão pela acção do Espírito Santo.
Sempre que celebramos a Eucaristia, invocamos duas vezes o Espírito Santo. Antes da consagração, para que o pão e o vinho sejam transformados no Corpo e Sangue de Cristo (“santificai estes dons, derramando sobre eles o vosso Espírito”) e depois pedimos que desça sobre os que formamos a assembleia a fim de que “sejamos reunidos, pelo Espírito Santo, num só corpo”. Celebramos de acordo com o que acreditamos: que sem a acção do Espírito Santo, não pode haver Eucaristia; que sem Ele, e apesar das palavras da consagração, o pão e o vinho continuariam a ser sempre e só pão e vinho; e que sem Ele, os cristãos reunidos são apenas uma massa de gente mais ou menos estranha, mas nunca membros unidos de um só corpo, a Igreja. Mas se celebramos de acordo com o que acreditamos, é para vivermos de acordo com o que celebramos. E isso implica tanta coisa…
Viver de acordo com o que celebramos, é saber que nada do que um cristão diz ou faz tem valor só por si, mesmo quando o diz ou faz em nome de Deus. Aprendendo com o que fazemos na Liturgia, havemos de convencer-nos que, sem Deus, toda a missão da Igreja é estéril, todas as pregações inúteis, toda os trabalhos apostólicos são canseiras vãs, a existência uma “missa profana”. Aprendendo com a fé que professamos, que o Espírito Santo é o “Senhor que dá a vida”, saberemos que sem Ele tudo está, à partida, condenado à morte, a produzir nada.
Só as vidas, as palavras e as acções fecundadas pelo Espírito Santo dão fruto, transformam, convertem, constroem unidade. “Vinde, Espírito Santo, e renovai a face da terra!”