Na primeira parte do evangelho, a região da Galileia foi o palco principal da actividade e da pregação de Jesus,
muitas vezes rodeado por multidões. Agora tudo mudou e esta passagem pela Galileia é rápida e discreta: Jesus “não queria que ninguém o soubesse”. Desse modo, a atenção dos discípulos podia concentrar-se só sobre o que Ele tinha para ensinar. Na final e mais intensiva fase da sua formação, também nós somos chamados a percorrer o mesmo caminho e, a sós com Ele, sem outras preocupações e distrações, dispormo-nos a escutá-l’O, a olhá-l’O e a aprender.
O ensinamento de Jesus inicia com o segundo anúncio da paixão e ressurreição (o primeiro escutávamo-lo no passado Domingo): “O Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará”. Se a reacção ao primeiro anúncio foi de rejeição e oposição, por parte de Pedro, agora é de confusão, silêncio e medo, por parte de todos. Pior ainda, enquanto Jesus falava da sua morte eles discutiam uns com os outros “sobre qual deles era o maior”. Jesus e os discípulos percorrem o mesmo caminho, mas estão em mundos diferentes.
Daquilo que Jesus diz eles não querem saber. Daquilo que eles falam entre si Jesus não deve saber. Mas este comportamento dos discípulos não chega a esgotar a paciência de Jesus. O Filho de Deus procura de todas as formas mudar os nossos corações e a nossa mentalidade. Tenta com palavras: “Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos”; e tenta com gestos simbólicos: “tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a”.
O servo não é o escravo que age contra vontade, mas o que livremente se coloca ao serviço, que se dá conta daquilo que o outro tem necessidade e se empenha activamente em consegui-lo. E servo de todos. De todos, sublinha que o seu serviço é universal, não limitado a um âmbito, a um grupo, a um momento ou outro.
No meio daqueles homens que antes discutiam sobre questões de grandeza, Jesus coloca um pequeno. Aquela criança, com o que ela significa, é uma provocação; o seu abraço, ensinamento que entra pelos olhos.
Em todas as culturas e em todos os tempos, na relação entre pais e filhos se vê de modo exemplar o que significa servir e o que seja depender da ajuda e do serviço de outros. Os pais tomam ao seu encargo o bem dos filhos e orientam o seu agir, as suas forças, o seu tempo em prol desse bem. Obrigam-se, por amor, a um serviço exigente. Cuidar de um filho pequeno, não é, obviamente, a única forma de serviço, mas é a forma original, a mais humana e universal. Nela são legíveis as atitudes e os modos de comportar-se que devem caracterizar todo o tipo de serviço. “Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe”. Aquilo que é feito aos outros, sobretudo aos mais pequenos (socialmente) é feito a Jesus, ao próprio Deus: “Àquele que Me enviou”. Servir os outros é, portanto, a via directa para a comunhão com Deus, a única verdadeira grandeza à qual faz sentido aspirar.