Dentro da Oitava que celebra o Natal do Senhora, a Igreja convida-nos a colocar o olhar na Sagrada Família de Nazaré, Família na qual Jesus, com os seus pais, Maria e José, “crescia, tornava-Se robusto e enchia-Se de sabedoria.”
No episódio descrito por S. Lucas, repete-se, e assim se sublinha, que a Sagrada Família fazia tudo segundo a Lei, a Lei de Moisés ou Lei do Senhor. Para um judeu esta Lei representava, antes de mais, a vontade de Deus. É como dizer, portanto, que na Família de Jesus a realidade mais importante, a prioridade em todos os momentos e circunstâncias, era fazer a vontade de Deus.
Desde o início da sua vida, Jesus viveu no seio de uma família para a qual só uma coisa contava: realizar o projecto de Deus. Hoje, quantas discussões no seio das famílias, quantos aborrecimentos entre pais e filhos, porque a vontade dos pais não coincide com aquilo que os filhos querem ser e fazer das suas vidas? Imaginemos que nas nossas famílias cristãs, pais e filhos se habituam a procurar e perseguir uma única coisa: a vontade de Deus, o projecto de Deus para a família, o plano de Deus para cada um.
Os pais de Jesus não entendiam tudo, certamente não compreenderam, naquele momento inicial, todo o alcance das palavras de Simeão e Ana. Pode ser que para muitos pais o percurso dos filhos seja como foi o de Jesus para sua Mãe, “uma espada de dor” que trespassa a alma. Mas uma família autenticamente cristã é aquela na qual, através de momentos de oração e de diálogo entre todos, se procura discernir a vontade de Deus. Não se trata já fazer prevalecer a vontade de uns ou de outros, mas de juntos fazerem a única pergunta essencial: o quer Deus de mim no momento presente? O que quer Deus de mim para o meu futuro?
De entre as virtudes e os conselhos sábios que São Paulo apresenta às famílias na Epístola aos Colossenses, não podemos passar por cima daquele que diz “Habite em vós com abundância a Palavra de Cristo, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros”. Esta exortação exalta o valor e o papel que a Palavra de Cristo desempenha na nossa vida. Contendo a sabedoria de Deus, é com ela que nos instruímos e nos aconselhamos.
Tal como o Menino que, no seio da Família de Nazaré, crescia e se enchia de sabedoria, assim, na medida em que nos lares cristãos deixarmos que entre e habite a palavra de Cristo, na medida em que a palavra de Deus se sentar à mesa e em volta dela dialogarem pais e filhos, todos crescerão naquela sabedoria que nenhum livro ou programa de televisão poderão transmitir: a sabedoria que vem de Deus.
Nas famílias onde habitar a Palavra de Deus, os filhos saberão honrar e respeitar os pais sempre e sobretudo na sua velhice; os pais falarão aos filhos com naturalidade acerca do tema da vocação, mesmo da sacerdotal ou religiosa; fortalecidos pela Palavra, não serão presa fácil da ausência de valores que diariamente nos cerca e entra em casa pela janela dos olhos.
Permanecerão unidas e serão felizes aquelas famílias que “esperam no Senhor e seguem os seus caminhos”.