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“Nem Eu te condeno. Não tornes a pecar.”

O evangelho deste domingo mostra-nos como lida Jesus com o pecado e com quem o comete.

Trata-se de mais uma catequese sobre a misericórdia de Deus. Mas este é também um dos textos mais controversos da Sagrada Escritura. Aliás, ao longo dos séculos, houve, inclusivamente, quem o tentasse retirar da Bíblia, ou se tenha esforçado para arranjar uma forma engenhosa de o interpretar, que não pusesse em causa os bons costumes, nem a prática penitencial da Igreja. Os escribas e fariseus apresentaram a Jesus uma mulher apanhada em adultério, para ver o que Jesus iria dizer ou fazer. Se Jesus se colocasse do lado dela, estaria a pôr-se contra a Lei. Se a condenasse, estaria a abandoná-la nas mãos de pessoas sem escrúpulos, que até se servem do mal dos outros para armar ciladas. A situação é complexa, não só por ser uma armadilha, mas pela situação em si.

O evangelista diz que Jesus se inclinou e começou a escrever com o dedo no chão. Não o faz para fugir à pergunta delicada. O certo é que, assim, evitou reagir intempestivamente. Se quisesse desviar-se do problema poderia expôr a hipocrisia de quem o procurava tramar, perguntando que justiça procuravam se só traziam a frágil mulher, sozinha, esquecendo quem estava com ela. No entanto isso não resolveria a questão. Era preciso tocar as consciências de todos. Por isso profere a sentença: “Quem de entre vós estiver sem pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8, 7). Estas palavras não diminuem a gravidade do facto em si: o pecado da infidelidade, da traição, do adultério, questão delicada que, em todos os tempos, tem afectado a base das relações matrimoniais e sociais. Mas elas abrem o olhar para outra realidade: nenhum de nós tem o direito de julgar ou condenar. 

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Quantas vezes procuramos uma justiça punitiva do tipo de Talião: ‘olho por olho, dente por dente’. Mas essa justiça é incapaz de reparar o mal feito. Jesus faz diferente. É verdade que condena o pecado que limita o ser humano, o empobrece, e vai destruindo as relações com os outros e com Deus: “Não tornes a pecar” (Jo 8, 11). Mas, porque ama infinitamente, não condena o pecador: “Eu não te condeno” (v.11). Ele não condena, pois a Sua vontade é salvar, restaurar, regenerar quem peca, dar uma nova oportunidade. Como diz o Papa Francisco: “Deus nunca se cansa de nos perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia. Aquele que nos convidou a perdoar setenta vezes sete dá-nos o exemplo. Ele permite-nos levantar e recomeçar, com uma ternura que nunca nos desilude e sempre nos pode restituir a alegria” (EG 3).

Senhor Jesus, perdoa o meu pecado e enche-me com a Tua misericórdia. Perdoa-me todas as vezes em que pego em pedras para acusar e condenar os que me rodeiam. Perdoa-me todas as vezes em que me ponho a reparar nos argueiros dos outros, e ignoro as traves que estão nos meus olhos. Perdoa-me todas as vezes em que não sou capaz de perdoar, acolher e amar ao Teu jeito.
Amén.a

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