No caminho para Jerusalém, Jesus continua o seu processo de formação dos discípulos,
e embora aqui apareçam as multidões e os fariseus, uma especial instrução dada aos discípulos se conclui numa casa.
Os fariseus questionam Jesus sobre uma prática relacionada com o casamento e, mais especificamente, com o divórcio. O divórcio era geralmente admitido pelos judeus do tempo de Jesus. Para eles era também claro que um homem tinha o direito de deixar a sua mulher, mas já a mulher não tinha esse direito. Por causa desta desigualdade (“por causa da dureza do vosso coração”) e para que a mulher, abandonada pelo marido, não fosse depois acusada de adultério e lapidada (sempre só a mulher…), estabeleceu Moisés que ela recebesse do marido um documento, o certificado de divórcio, que remediava um pouco a sua situação e a deixava livre, legalmente, para voltar a casar. É acerca da licitude desta prática que Jesus é questionado.
O Senhor responde primeiro à pergunta dos fariseus remetendo-os para aquilo que prescreveu Moisés e depois leva a discussão para outro nível, para aquilo que para Ele conta, a partir do agir e da vontade do Criador.
Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, capazes de estabelecer entre si uma relação baseada na liberdade, no respeito e no amor. Criou-os de modo a viverem um para o outro e a completarem-se mutuamente. É necessário, então, olhar para o matrimónio e para todas as questões a ele relacionadas a partir deste desígnio original de Deus. O matrimónio é uma vocação, resposta a um chamamento de Deus. É um projecto comum do homem e da mulher mas, mais que isso, resposta ao projecto de Deus. O homem e a mulher que se unem segundo a ordem da criação e o plano do Criador, estão unidos entre si pelo próprio Criador. Vivem uma união sagrada. Não se pode ver nem compreender bem nenhuma situação humana senão à luz de Deus e da sua vontade.
No caminho para Jerusalém o Filho de Deus falou do seguimento, da necessidade de renegar-se a si mesmo e tomar cruz, da adesão sem condições à sua pessoa e à sua palavra, do serviço ilimitado como caminho para a verdadeira grandeza. Agora, da relação entre o homem e a mulher. Aquilo que Jesus diz sobre esta relação, não pode ser separado daquilo que disse anteriormente. O ensinamento de Jesus acerca do matrimónio e da vontade de Deus sobre ele só pode ser acolhido e vivido por quem assimilou e assumiu o Evangelho.
A relação entre o homem e a mulher, elevada à categoria de sacramento, no matrimónio, supõe a disposição para seguir Jesus. Desde o baptismo tornaram-se discípulos de Jesus e, no matrimónio, realizam a sua vocação à santidade, ao seguimento de Cristo. Também no matrimónio, por essa razão, é preciso estar disposto a renegar-se, a morrer cada um para si em benefício do outro, é preciso carregar a cruz todos os dias, ter fé na pessoa e na palavra do Mestre e viver numa contínua atitude de serviço, sabendo que o serviço mais necessário é aquele de trabalhar, sofrer e amar pela santificação e salvação daquele/a a quem Deus uniu.