A polémica entre Jesus e os líderes judaicos continua,
com os fariseus a colocarem-Lhe um novo desafio: “qual é o maior mandamento da Lei?” Se, para um judeu, a Lei era expressão da vontade de Deus, perguntar pelo mais importante da Lei era o mesmo que perguntar sobre a realidade mais importante da vida. E Jesus responde que tudo se resume no amor, a Deus e ao próximo. É este o fim para que cada pessoa foi criada. Existimos para isto, só.
Ao iniciar e ao terminar cada dia, os judeus piedosos fazem esta oração: “Escuta Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”. É sobre estas palavras sagradas que Jesus baseia a primeira parte da sua resposta.
Trata-se de recordar que a Deus devemos amá-l’O com todo o nosso ser, com toda a nossa vida, desde dentro. Podemos fazer nossa a oração dos irmãos judeus, de modo a recordarmos diariamente que a nossa mais alta obrigação, enquanto filhos de Deus, é amar a Deus Pai, com todo o nosso amor e dedicação. O cristão deve amar a Deus com cada célula do seu ser, em cada segundo do seu tempo, com o melhor da sua inteligência, com todo o empenho da vontade.
Em seguida, sem se deter, Jesus mostra que o amor a Deus é inseparável do amor ao próximo: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Aqui chama-nos Jesus a amar o nosso próximo (e pela parábola do bom samaritano já sabemos que o próximo é qualquer ser humano), com a mesma solicitude e preocupação com que cuidamos de nós próprios. Jesus ensinou a aplicar este preceito do amor ao próximo quer a amigos quer a inimigos, e declarou que isso é uma exigência para alcançar a vida eterna.
O doutor da Lei perguntou por um mandamento e Jesus fez questão de responder com dois. Desse modo, Ele uniu o mandamento do amor a Deus com o do amor ao próximo. E isto que Ele uniu não o podemos nós separar.
Sempre que alguém pretende dedicar-se ao próximo prescindindo de Deus, mais cedo ou mais tarde acaba por falsificar o amor. O humanismo sem Deus, sabemos pela história, acaba sempre em desumanidade.
Sempre que alguém pretende amar a Deus sem se importar com a justiça e a caridade faz ofensa ao próprio Deus e vive na falsidade, como recorda S. João: “Se alguém diz que ama a Deus e odeia o seu irmão, é um mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus a quem não vê” (1Jo 4,20).
Não separe o homem o que Cristo uniu. E Cristo uniu o amor a Deus e o amor ao próximo. O divórcio entre estas duas dimensões do amor é sempre uma traição à Palavra de Cristo e uma fonte de sofrimento. Não se pode separar religião e ética, as obrigações da religião e os deveres de justiça e caridade.
O amor a Deus é o fundamento e a inspiração para o amor ao próximo. Temos, de facto, uma tendência natural para imitar aqueles que amamos. Assim o amor a Deus tem de levar-nos a imitar o seu modo de amar, incondicional e universal.