1. Hoje continuamos a aprofundar as condições para se ser discípulo de Jesus.
Depois de, na semana passada, termos reflectido sobre a humildade, necessária para imitar o Mestre e nos tornarmos mais semelhantes ao Pai do Céu, esta semana escutamos três exigências radicais: “Se alguém vem ter comigo e não Me preferir” a todos, “e à própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14, 26); “Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo” (v. 27); “Quem não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo (v. 33). Estas condições expressam a radicalidade evangélica. Por serem tão duras houve quem, tentando adocicar o evangelho, propusesse que eram condições facultativas, destinadas mais a uma pequena elite, um pequenino rebanho de discípulos mais perfeitos, como monges ou freiras de clausura. Mas as palavras de Jesus são para todos os que decidem segui-l’O.
Olhemos para estas exigências de Jesus, e descubramos que alcance têm nas nossas vidas. Vejamos em primeiro lugar as relações humanas e a nossa relação com os bens. As relações familiares entre pais e filhos, entre irmãos e entre esposos, são o alicerce das relações sociais e da própria sociedade. Nada haveria de as lesar. Porque é que, então, Jesus parece relevá-las para segundo plano? Ele não põe em causa as nossas relações, mas apenas as que nos podem afastar d’Ele. O mesmo acontece em relação aos bens materiais, às coisas que possuímos. Seguir Jesus implica ter um novo relacionamento com as coisas. Elas são boas enquanto estão ao serviço. Quando se tornam ídolos e nos tornam escravos, então, há que ser capaz de romper também com elas. Para Jesus é fundamental que sejamos capazes de romper com tudo aquilo que nos possa impedir de ser fiéis ao Evangelho.
Por vezes também reduzimos a expressão ‘carregar a cruz’ apenas a ter paciência nas adversidades ou a fazer sacrifícios. Mas ‘carregar a cruz’ é também um convite a testemunhar a fé com a própria vida. Não se trata de uma resignação passiva, mas de uma resolução séria, um compromisso de vida com Jesus Cristo, o Mestre. Ser discípulo é muito mais do que uma simples pertença sócio-religiosa à Igreja, como se se tratasse de uma associação ou irmandade. É uma adesão total e uma entrega generosa ao projecto de Deus. É ser capaz de dar testemunho de fé acima de todos os afectos e de todas as relações materiais, mesmo que isso pese. Ser discípulo implica uma conversão contínua e uma adesão pessoal e plena a Jesus Cristo. Torna-se discípulo quem se deixa tocar pelo olhar de Jesus e, apaixonado e confiante, deixar tudo para O seguir.
Senhor Jesus, bem sabes que quero ser Teu discípulo. E também sabes o quão longe estou de me desprender facilmente de tudo aquilo que me afasta de Ti e me impede de ser um discípulo fiel. Torna-me capaz de fazer de Ti o tudo da minha vida. Toca-me com teu olhar e transforma-me.
Amén.