“Não é um Deus de mortos, mas de vivos”

A liturgia deste domingo coloca-nos diante do mistério da vida e da morte.

A partir da constatação da fragilidade da vida e da inevitabilidade da morte, o ser humano sempre se questionou sobre o porquê e o para quê da sua existência. Estas questões existenciais são transversais à humanidade de todos os tempos, desde as antigas civilizações. As três religiões abraâmicas, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, procuram abrir perspectivas aos seus crentes também sobre estes assuntos. Mas há quem queira tratar estas questões antropológicas apenas a partir duma base científica. O problema colocado na liturgia de hoje é pertinente. De facto, não é fácil encontrar respostas sobre estas questões ou acreditar na imortalidade e na ressurreição! E neste tempo ainda menos, porque esta sociedade, dominada pela busca do bem-estar material, preocupada apenas com o presente, parece querer construir aqui a sua morada, sem horizontes futuros.

A doutrina cristã professa a imortalidade da alma e a ressurreição da carne. Mas até se chegar a estas afirmações fez-se um longo caminho de reflexão. Aliás, como todo o processo da Revelação de Deus, também as questões relacionadas com a existência humana foram sendo reveladas e compreendidas de forma lenta e progressiva. O entendimento acerca do mistério da morte, da ressurreição e da vida eterna foi evoluindo ao longo de séculos. No Antigo Testamento, profetas como Isaías e Job não tinham ainda noção do conceito de imortalidade ou de ressurreição como, mais tarde, por exemplo, teve o profeta Daniel, ou os sete irmãos judeus, mortos às mãos do ímpio rei da Assíria, no tempo dos Macabeus, cuja história hoje nos era apresentada na primeira leitura. Mesmo no tempo de Jesus, entre os judeus, estas questões não eram claras e havia quem acreditasse na ressurreição e quem a negasse.

Os fariseus entendiam a ressurreição como uma espécie de regresso a esta forma de vida, mas sem as limitações actuais. Os saduceus diziam não encontrar na Lei de Moisés qualquer base bíblica que a sustentasse. Estes, percebendo que Jesus afirmava a ressurreição, questionam-n’O sobre como será a vida futura. A capacidade humana era, e é, muito limitada para entender a resposta de Jesus. No entanto, dela podemos retirar informações importantes. Quem somos? Somos seres criados por Deus para a vida, não para a morte. Como será a vida futura? Por certo muito diferente desta que conhecemos. Não será uma segunda vida, mas uma única vida que continua em Deus, embora de forma completamente nova. Somos de Deus e para Ele voltaremos, pois Ele “não é um Deus de mortos, mas de vivos” (Lc 20, 38). Somos chamados à vida não para morrer, mas, pela morte, vivermos a plenitude em Deus.

Senhor Jesus, ilumina a minha inteligência e o meu coração, para compreender e acreditar na vida eterna. No meio desta sociedade marcada por uma cultura da morte, do descartável, em que se procura mais o conforto material do que os bens futuros, ajuda-me a ser testemunha da tua ressurreição. Faz de mim um arauto da Vida Nova, da Vida Plena em Deus.
Amén.

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