Neste dia dos fiéis defuntos, a grande maioria das pessoas desloca-se aos cemitérios. Porque o fazemos? O que nos move? O que nos faz ir lá? A memória e a saudade? Certamente. Mas para um cristão existem outras razões e motivações. E, como sempre, é na Palavra de Deus que as descobrimos e as reforçamos.
Job sente-se só e abandonado pela família, os amigos e até pelo próprio Deus. Todas as relações se quebraram para ele. A sua situação é uma sensação de morte antecipada, porque é isso a morte: corte de relações com as pessoas, com a vida e, em certo sentido, com Deus. A morte é a solidão. No seu mistério de solidão e abandono, todavia, Job exclama: “Eu sei que o meu Redentor está vivo… na minha carne verei a Deus”. Mesmo não sendo claro o sentido que estas palavras tiveram para Job, a Igreja, desde cedo, viu nelas uma afirmação de fé: o nosso Redentor (Cristo ressuscitado) está vivo e graças a Ele esperamos: “meus olhos O hão-de contemplar”.
A mesma certeza é partilhada por S. Paulo e os cristãos de Corinto: ”Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna”. Bem sabemos. E sabemo-lo simplesmente porque acreditamos em Cristo ressuscitado, na Páscoa do Senhor Jesus. Ele venceu a morte. A morte já não é definitiva, já não tem poder sobre nós. Nisto cremos e por isso esperamos.
Que diferença fazem, na nossa vida, as virtudes da Fé e da Esperança? Que novidade levamos ao mundo os que recebemos o dom de acreditar na Ressurreição e de esperar na Vida Eterna? E os nossos amigos ou familiares que morreram, o que ganham com a nossa Fé e Esperança?
A Fé e a Esperança cristãs levam o amor a outro nível. Geram uma forma nova de amar: amar para além da morte. Rezar é uma forma de amar, e rezar pelos que morreram é a forma de continuar a amá-los. Porque temos Fé e Esperança, rezamos; e rezamos pelos que morreram porque os amamos com um amor mais forte do que a morte. Rezar pelos mortos é, por isso, testemunho cristão de Fé, de Esperança e de Caridade.
Nestas três virtudes encontra fundamento a oração pelas almas do Purgatório. “Encontrareis descanso para as vossas almas”, diz Jesus no Evangelho. O descanso das almas não é total enquanto não se encontrarem definitivamente junto de Deus. A fase de Purgatório é necessária porque o amor não pode ser consumado (isto é, igual ao de Deus) enquanto o egoísmo não for totalmente consumido. Como o ouro no crisol, assim as almas do purgatório precisam de ser purificadas até que o seu amor seja puro e santo. Por isto rezamos por elas, nos sacrificamos, oferecemos por elas a Eucaristia: tudo isso lhes serve de sufrágio, de apoio e suporte. Havíamos de lhes negar esta ajuda? Não queremos continuar a amá-las? Quem ama, reza.
Os cristãos, como as outras pessoas que o não são, sentimos saudades dos que partiram. Mas também temos saudades do Céu, porque o Céu é a nossa casa: todos lá nascemos! A Esperança é a forma cristã da saudade. Neste dia, movidos pela Fé, a Esperança e a Caridade, junto dos túmulos dos que amamos, repitamos as palavras do Apóstolo: “irmãos, Aquele que ressuscitou Jesus também nos há-de ressuscitar e nos levará convosco para junto d’Ele”