Interrompemos a leitura do Evangelho segundo São Marcos
e durante cinco domingos vamos deixar-nos guiar por São João, com o relato do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Hoje lemos a descrição do milagre; nos domingos seguintes ouviremos a interpretação que Jesus fez deste acontecimento, referindo-se a um outro tipo de pão, o verdadeiro Pão descido do Céu. Devemos proceder com paciência, recordando em cada domingo o que antes foi ensinado e abrindo o coração a uma revelação progressiva.
São João, quando fala de milagre na sua língua, usa um termo específico: sinal. Ele chama sempre aos milagres sinais. Os sinais não valem por si, mas pela mensagem que transmitem. Assim, um condutor precisa de saber interpretar os sinais, ler a mensagem que eles transmitem. De algum modo, assim é um milagre: um sinal que transmite uma mensagem. A multiplicação dos pães e dos peixes traz um conjunto de sinais e, todos juntos, transmitem uma mensagem muito profunda acerca de Jesus.
Uma primeira mensagem significativa é-nos dada pelo número sete: cinco pães e dois peixes. Sabemos que o número sete indica plenitude, totalidade. Quando o pouco que temos e o pouco que somos é colocado nas mãos certas, as mãos de Jesus, multiplicam-se as possibilidades de bem. Não é um acaso que tenha sido precisamente “um rapazito” a dar o que tinha. Não importa a condição social, a idade, ou o que os outros pensam ou comentam. O importante é dar e dar-se. Jesus acolhe e multiplica o que se dá com amor: “Tomou os pães… fazendo o mesmo com os peixes”.
Em seguida, “deu graças”. Jesus não se lamenta pelo que Lhe falta, não fica triste por apenas um rapazito ter sido generoso. Simplesmente, dá graças. Também esta acção de Jesus é importante. Dar graças é a tradução da palavra Eucaristia. O mesmo que Jesus fez na última ceia. É mais um sinal, uma mensagem que se vai abrindo: aquela multiplicação dos pães aponta já para a multiplicação do Pão eucarístico, o milagre maior e definitivo de Jesus.
Depois de dar graças, Jesus distribuiu os pães e os peixes. Por questões práticas, fazia mais sentido que os discípulos ajudassem a distribuir o alimento. Mas ao evangelista interessa mais o aspecto simbólico do que o prático: é Jesus em pessoa que distribui o alimento, apontando desse modo para o último gesto da sua vida terrena, em que Se dá a Si mesmo, em que entrega a própria vida.
Depois que todos ficaram saciados, sobraram doze cestos. Mais um número simbólico: os cestos são tantos como os apóstolos, as colunas da Igreja. Nada se pode perder, não apenas porque não se pode desperdiçar alimento, mas sobretudo porque o Pão que é o mesmo Jesus não pode nunca faltar. Para que em todas as gerações e lugares todos possam saciar-se com o Pão da vida, os Apóstolos e seus sucessores têm a obrigação de nunca deixar que este Pão falte.
No fim, os que presenciaram o milagre começaram a dizer: “Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo”. O milagre, para eles, é já um sinal que revela quem é Jesus. Ainda não é tudo, porque Jesus é mais do que um Profeta. Mas é um começo, é um primeiro passo na fé. Outros têm de ser dados. Temos de aguardar pelos próximos domingos para ouvir a catequese de Jesus acerca do Pão da Vida, para acolhermos a revelação sucessiva e completa de Jesus. Com aquela multidão e com os discípulos, vamos lendo os sinais e fazendo nosso este caminho de fé.