Jesus gostava de entrar em casa das pessoas. S. Marcos sublinha-o várias vezes. Isso não deve ser alheio ao facto de que quando ele escreveu a sua versão do Evangelho, não havia ainda igrejas e os cristãos reuniam-se para rezar e celebrar a Eucaristia em casas particulares.
Imaginamos, então, a casa de Simão como um símbolo de uma igreja onde a Igreja viva, a comunidade dos discípulos, se reúne. Na casa de Simão estão Jesus e os discípulos; estes falam-Lhe de uma pessoa doente; Jesus aproxima-Se, toma-a pela mão, cura-a e dispõe para o serviço.
A Igreja é o espaço onde os discípulos se reúnem com Jesus para a oração, para Lhe falar (“logo Lhe falaram dela”), para celebrar os sacramentos como momentos especiais em que o Senhor se aproxima, nos toca, cura e levanta, a fim de que, fortalecidos, possamos viver em atitude de serviço aos outros (“começou a servi-los”).
Depois do pôr-do-sol (isto é, terminado o Sábado, dia em que a Lei proibia curar, nem que fosse a sogra de um amigo…), “trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos”. E Jesus curou muitos. Desse modo, anunciava o Reino de Deus não só por palavras mas também por meio de acções benevolentes e poderosas. Mas Jesus corria também um risco: que as pessoas O procurassem só por interesse, que O confundissem com um curandeiro poderoso ou mesmo O aclamassem como um messias terreno. Aquilo que todo o político populista anseia, Jesus evita.
Acolher a mensagem de Jesus, ser cristão, não consiste em considerar Deus um super médico e em querer que Ele resolva todos os nossos males e problemas, mas sim em escutar, cada dia, o convite de Jesus a converter-se e a acreditar no Evangelho, em confiar incondicionalmente no poder e na bondade de Deus.
De manhã, ainda escuro, “retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar”. Num momento em que, como recorda Simão, “todos Te procuram”, Ele retira-Se em segredo para um lugar solitário, procura a tranquilidade e a solidão para rezar e estar plenamente com o Pai. Quando todos O querem, Ele quer estar a sós com o Pai. Jesus surpreende sempre, e sempre que surpreende, também ensina e provoca.
Para a oração, Jesus escolhe os lugares e os momentos do dia mais apropriados. Mas é muito significativa também a fase da missão em que S. Marcos nos fala disso pela primeira vez. Jesus gasta tempo na oração precisamente numa etapa em que tem tanto para fazer… quando tanta gente precisa d’Ele… quando parar para rezar parece perda de tempo… e implica defraudar expectativas.
O que determina o caminho a seguir, não são as expectativas dos homens, mas a missão que o Pai lhe confiou: “foi para isso que Eu vim”.
A oração não é para Jesus, e por isso não pode ser para nós, um apêndice, algo que se pode dispensar, porque o que importa é fazer o bem… A oração permite fazer o bem à maneira de Deus, segundo Deus. Evita que nos cansemos e percamos tempo com aquilo que nos parece útil, mas não corresponde àquilo para que viemos e fomos chamados.