No evangelho de hoje Jesus prossegue o seu ensinamento em parábolas, comparando o Reino dos Céus com um tesouro,
uma pérola preciosa e uma rede de pesca. O Reino dos Céus é a presença e a acção de Deus no mundo e no coração dos homens. Quem, pela fé, reconhece esta presença e acção divina na sua vida e a acolhe com alegria, sabe que faz todo o sentido compará-la com o mais valioso tesouro ou a mais preciosa das pérolas.
As duas primeiras parábolas são muito semelhantes. Em ambos os casos, os dois homens encontram algo de precioso e vendem os seus bens para adquirirem um bem maior. Mas existe uma diferença significativa: enquanto um homem encontra de modo surpreendente um tesouro, o segundo encontra uma pérola preciosa depois de uma longa procura. Por vezes a descoberta de Cristo como uma pessoa viva, presente e actuante, acontece de um modo surpreendente, um dom da graça de Deus que se revela num momento determinado da existência. Outras vezes, o dom da fé acontece depois de uma caminhada longa de dúvidas e incertezas, de procura perseverante e até de sofrimento.
Cada vida de fé é uma história única, cada um faz o seu próprio percurso, mas nenhum cristão, para o ser, pode deixar de fazer esta descoberta pessoal de Jesus e do seu projecto para a vida. O homem que descobriu o tesouro no campo “ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo”. O contentamento que ele experimenta é símbolo da felicidade incomparável que resulta de nos sabermos amados por Deus com um amor pessoal, incondicional e infinito. Um amor que não tem comparação com qualquer tipo de amor humano.
O amor de Deus experimentado de um modo pessoal, a descoberta da nossa vocação e missão no mundo segundo o projecto de Deus, a disponibilidade total para que Deus reine no nosso coração e, através de nós, no mundo que nos rodeia, são realidades que enchem a vida de sentido e nos dão a certeza que diante do bem maior, o Reino de Deus, todas as outras realidades são secundárias.
“Dai ao vosso servo um coração inteligente”, assim reza Salomão na primeira leitura. Não pede longa vida, nem saúde, nem riqueza, nem qualquer outra coisa que humanamente tenha valor. Pede a sabedoria para poder exercer a sua missão com justiça e segundo a vontade de Deus. Porque sabe que uma vida cheia de dinheiro, saúde e bem estar mas vazia de valores e de entrega não vale a pena ser vivida. Se no juízo final, simbolizado na separação dos peixes bons e inúteis de que fala a terceira parábola, seremos julgados pelo amor, percebemos a seriedade e importância de pedirmos ao Senhor, como Salomão, um coração inteligente para poder discernir o bem do mal e optar por caminhos de justiça e amor.
Dai-me, Senhor, um coração inteligente, capaz de reconhecer que Tu és o Bem Maior, a minha pérola preciosa, o meu único tesouro. Dá-me um coração inteligente capaz de reconhecer na minha vida e no mundo a tua presença e a tua acção. Nada mais importa desde que Tu reines em mim, na Igreja e no coração dos homens, meus irmãos. Sê Tu, e só Tu, a plenitude da minha alegria. Que, em teu nome, seja capaz de fazer escolhas marcadas pelo amor, pela generosidade e doação aos outros. Que não tema abdicar de todos os outros bens por Ti e pelo teu Reino.