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“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”

O confronto entre Jesus e as autoridades judaicas, a que vimos assistindo nos três últimos domingos, vai aumentando de intensidade e prossegue agora com os fariseus e os partidários de Herodes a procurarem “maneira de surpreender Jesus no que dissesse” e assim terem um pretexto para O acusarem e condenarem.

Em primeiro lugar, procuram disfarçar o objectivo desonesto mascarando-o com a bajulação. Começando por tratar Jesus com cortesia (“Mestre”), lançam um elogio atrás de outro: é um homem honesto, ensina o caminho de Deus, não se deixa influenciar pela opinião dos outros nem pelo estatuto social de ninguém… Com esta “engraxadela”, Jesus está preparado, presumem eles, para dizer o que pensa com ousadia e cair na armadilha.
A estratégia consistia em colocar a Jesus uma questão delicada: “é lícito ou não pagar o tributo a César?” Com isso, os fariseus esperavam que Jesus dissesse algo que fosse politicamente incriminador ou que O levasse a cair em descrédito junto do povo.
Jesus pede, então, que lhe mostrem a moeda e leva-os a reconhecer que a imagem nela gravada é a de César. Ora, se tem a sua imagem é porque lhe pertence.
“Dai a César o que é de César…”, conclui Jesus. Esta expressão aponta para a obrigação dos cidadãos em contribuírem para o bem da comunidade em que estão inseridos. Por isso a Igreja defende este mesmo princípio e, apesar de tudo, vive neste espírito. O Concílio Vaticano II “exorta os cristãos a que procurem cumprir fielmente os seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho” (GS 43) e o Catecismo da Igreja Católica afirma de modo claro que “a corresponsabilidade pelo bem comum exige moralmente o pagamento dos impostos” (CIC 2242).
“… A Deus o que é de Deus”. Com esta segunda parte da resposta, Jesus eleva o debate a um nível mais profundo. O que pertence a Deus e por isso Lhe deve ser restituído? Rezamos no Salmo 24: “Ao Senhor pertence a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam”. Assim rezamos porque assim acreditamos: tudo é de Deus, a começar por nós próprios, pois tudo recebemos das suas mãos. O que se deve dar a Deus é muito mais que uma moeda: é a nossa vida. E não é para Lhe pagar nada, mas para Lhe agradecer tudo. A moeda própria do Reino de Deus é o seguimento de Cristo.
Se a moeda romana traz a imagem de César e por isso lhe pertence, o ser humano traz em si a imagem de Deus (“criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher” – Gén 1,27) e por isso a Deus pertence. A maior obrigação na vida é darmo-nos de volta ao nosso Criador.
Um dos textos cristãos mais antigos, cerca do ano 120 d.C., é uma carta escrita por um cristão anónimo e dirigida a um pagão chamado Diogneto. Nela se dá já testemunho do espírito com que a Igreja vive no mundo e na sociedade, e com expressões memoráveis, esta pérola da literatura cristã primitiva mostra como os cristãos dão a César o que é de César e a Deus o que é de Deus: “Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira… Moram na terra e são regidos pelo céu. Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas… Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo… A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo”.

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