Todo o agricultor é, naturalmente, um homem sábio, confiante e que se move pela esperança.
O acto de semear é sempre um acto de esperança: se não esperar que aquilo que semeia pode vir a nascer, crescer e dar fruto, nunca iniciará nenhum trabalho. Semeia porque acredita, porque espera, porque confia.
O seu trabalho tem tanto de activo como de passivo. Na sua actividade, ele prepara a terra, semeia, rega, arranca as ervas daninhas, recolhe o fruto. Mas, de facto, são muito mais as horas em que não faz nada, em que simplesmente espera e aguarda, durante meses, até que possa colher o fruto.
Durante as horas de passividade, é Deus que trabalha, é o Criador que tudo faz crescer e dar fruto. Trabalhar a terra para dela tirar o sustento é como um trabalho de equipa, uma acção conjunta do homem e de Deus. Quando rezamos na Eucaristia, bendizemos a Deus pelo pão e pelo vinho, dons que simultaneamente “recebemos da vossa bondade” e “da terra e do trabalho do homem”.
Esta colaboração humana com Deus, podemos contemplá-la também a um outro nível: a construção e o crescimento do Reino de Deus. É o que Jesus nos ensina, possivelmente inspirando-se na profecia de Ezequiel, na primeira leitura, em que Deus promete plantar um pequeno ramo, o qual virá a dar frutos abundantes, “tornar-se-á um cedro majestoso. Nele farão ninho todas as aves”. Com esta imagem Deus está a prometer um descendente de David, ou seja, a vinda do Messias e do novo Reino que, com Ele, se iniciará.
Com Jesus Cristo, o Messias prometido por Deus, tem início o Reino de Deus. Com Ele, com a sua palavra e as suas acções, mas sobretudo com a sua morte e ressurreição, abrem-se para os homens novas possibilidades de vida e de felicidade.
O Reino de Deus é, deste modo, uma nova realidade que Deus nos oferece, que faz vir ao mundo com o seu Filho feito homem. Ao vencer o pecado e a morte, a páscoa é como uma explosão de vida, é semente de salvação, de vida eterna. Na terra foi já semeado o céu.
Construir o Reino de Deus é, como o cultivo da terra, uma colaboração entre Deus e o homem. Por mais pequena e insignificante que seja, a semente do Reino tem dentro de si uma potência de vida. Se deixarmos que em nós mesmos e nas nossas famílias, nos nossos ambientes e na nossa sociedade, entre esta semente, se cuidarmos para que ela encontre condições para germinar e crescer, Deus fará visível aí o seu Reino, transformando-nos a nós mesmos, às nossas famílias, às nossas comunidades.
O Reino de Deus é fruto do nosso trabalho, dos nossos esforços, da nossa colaboração. Mas sobretudo, cabe-nos acreditar que a vida de Jesus é semente deste Reino. Mais importante do que fazer muitas coisas pelo Reino, é acolhê-lo e acreditar. A colaboração com Deus na construção de um mundo novo, consiste, antes mais, como o trabalho do agricultor, em acreditar, esperar e confiar em Deus, único Senhor do Reino.