Chegámos ao fim do ‘ano A’ deste ciclo litúrgico. A solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo, coroa, em cada ano, a mensagem evangélica.
Neste, em concreto, vem também interrogar-nos sobre a forma como temos vivido a nossa fé. Como no final de um ano civil, sugere que façamos um balanço da nossa fé, tanto ao nível pessoal, como ao nível comunitário. Para nos ajudar a fazer esse balanço, o evangelista Mateus, com a conclusão do discurso escatológico de Jesus, que temos vindo a ler nos últimos domingos e que antecipa a Sua paixão e morte na cruz, coloca-nos diante da clássica visão do juízo final. Mais do que ter medo desse juízo final, o importante é a avaliação da nossa fé, de acordo com o necessário para receber ‘como herança o Reino que nos está preparado desde a criação do mundo’ (Mt 25, 35).
A finalidade do evangelho de hoje não é propriamente dar-nos conta de como será o fim do mundo, mas ensinar-nos a viver cada dia como cristãos coerentes, ou seja, que a nossa fé seja professada, celebrada e, sobretudo, vivida, para que se cumpra em nós a afirmação de Paulo: “é necessário que Ele reine” (1 Cor 15, 25). Para isso, Jesus convida-nos a fixar a nossa atenção nas atitudes de amor ou indiferença, isto é, no acolhimento amoroso ou na recusa diante dos mais necessitados. No antigo Médio Oriente era bem conhecida a lista das pessoas que se deviam ajudar. Outras culturas e religiões, além dos judeus e dos cristãos, tinham o preceito de ajudar os mais pobres, os doentes, os sem-abrigo, os nus, os esfomeados ou os peregrinos. Os egípcios, por exemplo, já escreviam esses preceitos, muitos séculos antes, no chamado ‘livro dos mortos’. Então em que difere Jesus?
Se estes preceitos já antes eram praticados por determinados povos, poderia parecer que as palavras de Jesus não trariam grande novidade. É certo que Ele aprofunda de forma mais clara que, no final da vida, a única coisa que contará é o amor desinteressado e autêntico com que vivemos. Mas a grande novidade é Jesus identificar-se com os doentes, os sem-abrigo, os nus, os esfomeados ou peregrinos. Ele mesmo diz: “Quantas vezes o fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes” (Mt 25, 40). Então, se queremos ver o rosto de Jesus, lembremo-nos que a sua imagem brilha com mais claridade no rosto dos mais necessitados. É neles que Cristo reina. Se a nossa fé deve ser uma adesão incondicional à pessoa de Jesus, então, só nos configuraremos totalmente com Ele, se vivermos este amor aos irmãos. E só assim Ele reinará nos nossos corações e no mundo.
Senhor Jesus, faz-me perceber que um gesto de amor para com os mais desfavorecidos vale mais que mil palavras. Peço-te que me ajudes a entender sempre que descuidar o amor concreto pelos pobres, os peregrinos, os doentes, os prisioneiros, os esfomeados, os idosos e tantos outros irmãos necessitados, é virar-te as costas. Não permitas que eu lhes falte ao amor, pois estaria a negar-te e a abandonar-te.
Amén