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Entrevista: Elsa Fernandes – Presidente da direcção da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda

“Atrevo-me a dizer que é na Guarda que se encontra o espólio mais rico e mais genuíno em termos de prática lúdica tradicional…”

Elsa Fernandes, Presidente da direcção da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda, é natural da Guarda. Estudou em Colónia, Guarda, Trancoso, Porto

Nos tempos livres gosta de estar em silêncio e descobrir a minha aldeia, a minha cidade, o meu país.

A GUARDA: A Associação de Jogos Tradicionais da Guarda assinalou o 45º aniversário com a divulgação de um projeto levada a cabo por quatro jovens, que ouviram e registaram histórias, vivencias e formas de jogar de outros tempos.
Onde foi realizado o projeto e qual o balanço do mesmo?

Elsa Fernandes: Através do apoio do IPDJ e em particular pelo programa promotor de voluntariado Geração Z, a AJTG desafiou 4 jovens a realizar um projecto que pudesse conjugar vários temas – jogos tradicionais, 25 de Abril e a Guarda.

A Cristiana Ferreira, o José Nunes, a Mariana Urgueira e a Simone Fontes aceitaram o desafio e percorreram o concelho da Guarda a ouvir e a registar manifestações de pessoas mais velhas e mais novas sobre os jogos tradicionais e o seu impacto na vida das pessoas.

Deste trabalho ao longo do verão obtiveram-se 50 referências a jogos e 50 testemunhos (para lembrar os 50 anos do 25 de Abril) do concelho da Guarda e que agora estão disponíveis para quem quiser ver e ouvir no Youtube da AJTG e também vão estar presentes no dia 23 de Novembro no Seminário sobre o Associativismo da Guarda. Dado o impacto positivo deste projeto será apresentado também no dia 8 de Novembro, em Viseu na sessão promovida pelo IPDJ no âmbito do prémio “Boas Práticas do Voluntariado Jovem”. Aliás, já não é a primeira vez que a AJTG tem esta oportunidade tendo sido no passado agraciada com uma menção honrosa.

A GUARDA: Podemos dizer que o concelho da Guarda é rico em jogos tradicionais, alguns exclusivos deste território?

Elsa Fernandes: Há manifestações culturais que são específicas da Guarda. A riqueza dos jogos tradicionais está na sua diversidade… podem ser materiais idênticos e até terem nomes iguais, mas é a forma de jogar, as regras, os tamanhos, os pesos dos materiais que torna o jogo tradicional tão rico, tão desafiante, tao identitário.  E neste contexto todos os locais têm exclusividades, mas só a Guarda tem uma associação que ao longo de 45 anos recolheu, registou, classificou, guardou este património material e imaterial. Atrevo-me a dizer que é na Guarda que se encontra o espólio mais rico e mais genuíno em termos de prática lúdica tradicional… seja através da AJTG ou mesmo através dos muitos dirigentes apaixonados por este tema que estão ou já estiveram na AJTG.

Aliás, é parte desta exclusividade que vai poder ser oferecida às pessoas num registo que será único e incalculável que é a compilação as crónicas “Do Lado de cá do Tempo” publicadas no extinto jornal “Terras da Beira” e com a assinatura de Norberto Gonçalves. Esta foi a prenda que o senhor Presidente da Câmara Municipal da Guarda quis oferecer a AJTG no dia dos seus 45 anos e confesso que foi uma das mais ricas e bonitas dos últimos anos.

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A GUARDA: “A Jogar a Tradição” de forma interrupta, ao longo de 45 anos, a Associação de Jogos Tradicionais da Guarda ainda continua a ter um papel fundamental na promoção e educação das tradições e culturas?

Elsa Fernandes: Acreditamos que sim e todos os dias temos provas que sim. Estamos sempre a ser desafiados para novos projetos e novas iniciativas promotoras da cultura e das tradições e por vezes só não fazemos mais porque a AJTG é uma associação sem fins lucrativos com base em voluntários, tanto nos colaboradores como nos dirigentes. Ou seja, todos temos responsabilidades pessoais e profissionais que impedem por vezes cumprir as exigências em termos de participações em horários laborais… seja para realizar atividades, seja para participar em reuniões ou atividades de outras instituições. A AJTG exige cada vez mais e nós estamos cada vez mais limitados no tempo que podemos dar a AJTG. É também por isso que é cada vez mais urgente debater o papel e os desafios dos dirigentes associativos voluntários.  O caso da AJTG não é único e é preciso as associações serem reconhecidas pelo seu papel fundamental no serviço público que prestam às comunidades, aos territórios, às regiões… às pessoas.

A GUARDA: Quais os objetivos do Seminário sobre “O Associativismo na Guarda” que a vossa Associação vai organizar no mês de Novembro?

Elsa Fernandes: O seminário pretende ser um espaço de reflexão, de debate e de união.  O associativismo na Guarda (e não só na Guarda) é um dos pilares de desenvolvimento territorial e é essencial termos coletivamente esta perceção.  O associativismo e a participação cívica são essenciais a uma vivência em liberdade e no ano em que se assinalam os 50 anos é primordial por este tema na agenda local. 

Neste contexto a AJTG e a CMG através do TMG desafiaram-se mutuamente para organizar este seminário que quer compreender melhor a Guarda antes e depois do 25 de Abril de 1974; quer reformar o papel do associativismo no desenvolvimento social, político e cultural do país em geral e da Guarda em particular; quer promover a discussão sobre o futuro do associativismo na Guarda; quer ser um espaço de debate interassociações que desenvolva uma identidade e união coletiva.

Estamos a ir de encontro a um dos muitos desafios deste mandato da AJTG que é trabalhar para uma maior envolvência e intervenção dos sócios e da comunidade em geral que potenciem um crescimento associativo saudável.

O Seminário “O Associativismo na Guarda” vai realizar-se no Pequeno Auditório do TMG, no dia 23 de Novembro e as inscrições vão estar disponíveis a partir desta semana.

A GUARDA: É importante o debate conjunto sobre o Associativismo?

Elsa Fernandes: É muito importante. Existem muitas associações no concelho da Guarda… culturais, sociais, desportivas, recreativas… com diversos objetivos e dedicadas a diversas temáticas. Todas são importantes e fundamentais para um concelho e um distrito como o da Guarda. Cada associação é composta por muitas pessoas que se entregaram a causa pública (independentemente dos motivos que cada um tem). São muitas centenas de pessoas com responsabilidades que têm uma opinião e é importante essa opinião ser partilhada, debatida, reflectida e transformada em soluções que podem ser para mais pessoas, para mais associações, para mais causas e missões.

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É, acima de tudo importante existir um espaço para as pessoas se conhecerem, desenvolverem a confiança e participarem…. seja uma associação de uma aldeia; seja uma associação desportiva, uma associação cultural ou uma de cariz social. A essência do associativismo é a cooperação, as sinergias, a colaboração e é esta essência que tem de ser desenvolvida entre as próprias associações. O associativismo precisa de mais transparência entre si e com as instituições, porque cada vez são maiores as complexidades na gestão destas estruturas; cada vez há maiores responsabilidades e cada vez há mais desafios. Temos que partilhar boas práticas, conhecimento, informações.

A GUARDA: Voltemos à vida da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda. Há alguma novidade sobre o Museu do Jogo Tradicional na Guarda?

Elsa Fernandes: O Museu do Jogo continua à espera de um espaço. O espólio continua a crescer a um ritmo cada vez mais acelerado e o espaço da AJTG, seja a sua sede, seja a garagem que tem alugada há décadas, é cada vez mais limitado para o tanto que a AJTG tem para mostrar e dar a comunidade que de forma responsável lhe confiou para ser guardiã de objetos e memórias. Sentimos que o Museu do Jogo é um desejo de alguns, mas ele tem de ser uma vontade coletiva porque, na verdade, é mais do que o projeto da AJTG – é um projecto da cidade, do concelho, do distrito e até do país.

Enquanto não for encarado como um projecto estratégico para as entidades e para as pessoas, o Museu do Jogo é só um sonho de uma associação que continua de forma altruísta a ser guardiã de memórias e objectos.

A GUARDA: Quantos sócios tem actualmente a Associação?

Elsa Fernandes: Entre sócios individuais e colectivos, a AJTG tem actualmente 2 centenas de sócios.

A GUARDA: Projectos para o futuro?

Elsa Fernandes: A AJTG continua muito empenhada em desenvolver actividades lúdicas com as muitas entidades suas parcerias, seja através da dinamização e animação; seja através da criação de novas propostas e formas de manter viva a prática lúdica tradicional. Assim, no próximo ano com o apoio da Câmara Municipal da Guarda, AJTG irá publicar a coletânea das crónicas “Do Lado de Cá do Tempo”; vamos continuar a dar a conhecer o Culto Privado das Almas e através delas os lugares e os recantos do concelho da Guarda; vamos continuar a desenvolver o tema da intergeracionalidade como mote para unir várias gerações e perspetivas; vamos desenvolver um projeto de promoção da saúde e bem estar através do jogo tradicional que irá envolver várias entidades ligadas ao ensino, a investigação, à economia social.

Continuamos dedicados e determinados, mas também é necessário que esta dedicação continue a ser acompanhada pelas entidades que podem ser parceiras ativas de defensa dos jogos tradicionais – é preciso existir uma definição estratégica dos jogos tradicionais como promotores da identidade local, da qualidade de vida, da economia, do turismo nas autarquias, nas instituições de ensino, nos institutos públicos, nas comunidades intermunicipais para Juntos continuarmos a Jogar a Tradição!

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