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Talvez um assunto fora do contexto

Para esta semana que decorre, a Hierarquia Católica propôs aos seus fiéis a obrigação de consagrarem maior atenção

e dirigirem mais frequentemente súplicas a Deus pelos objectivos e problemas das almas consagradas, pela sua entrega e disponibilidade às tarefas mais directamente orientadas para os bens espirituais dos homens. E aqui trata-se da vocação dos leigos ao apostolado, um tema notável e debatido, no Concílio último.
A razão básica é que, frequentemente e em diferentes circunstâncias, se versam os encargos e incumbências dos religiosos, deixando quase de lado o problema agora questionado.
Naturalmente que o dever fundamental do homem religioso qualquer que seja a sua vocação é a correspondência ao apelo de Deus que a todos diz: “permanecei no meu amor”. E quando se fala deste apelo, normalmente chamado vocação, entende-se sobretudo, no comum do nosso linguajar, dirigido às almas consagradas como se os seculares, pessoas que permanecem nas tarefas do mundo, ficassem à margem destes apelos divinos.
Não é esta a verdade nem o hábito da Igreja, pois se consultarmos o ensinamento do Vaticano II, quase no início do Decreto sobre o Apostolado dos Leigos se podem ler estas advertências: “O dever e o direito ao apostolado advêm aos leigos da sua mesma união com Cristo cabeça. Com efeito, inseridos pelo Baptismo no Corpo místico de Cristo, e robustecidos pela Confirmação com a força do Espírito Santo, é pelo Senhor mesmo que são destinados ao apostolado ( …) para que todas as suas actividades sejam oblações espirituais e, por toda a terra, dêem testemunho de Cristo”. Continuando a explicação destas afirmações, concluem: “A todos os fiéis incumbe, portanto, o glorioso encargo de trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens em toda a terra”.
É evidente que os lugares da existência de cada um demarcar-lhe-ão a tarefa própria com as respectivas acções que deverão realizar. Isto significa que um homem a trabalhar em lugar hostil a Deus e à Igreja poderá ter maiores dificuldades para difundir o Reino de Cristo que uma freira fechada sempre no seu convento, embora estas, pela sua piedade e oração, seu trabalho duro e seus sacrifícios possam tornar-se mais fecundas e promotoras no apostolado, conforme a palavra do Senhor: “ Aquele que permanecer em Mim e Eu nele, esse produz muito fruto; pois sem Mim, nada podeis fazer”.
Os cristãos empenhados nos negócios da vida secular, no trabalho de todos os dias, nas ocupações de sustentar a família e mesmo a sociedade, não podem deixar as suas lidas desviar-se da vida espiritual pois então esqueceriam as palavras do Mestre divino dirigidas a todos os seus discípulos por meio do Apóstolo Paulo : “Tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras, tudo seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai”.
Como para os encargos e incumbências desta vida, todos hão-de preparar-se convenientemente a fim de bem desempenharem as suas funções, também nos ofícios de ordem espiritual hão-de apresentar-se devidamente instruídos e habilitados e assim cumprirem devidamente os seus deveres religiosos sem descurarem os seus postos no emprego, na família e na sociedade. Desta monta diz o Concílio: “Tenham também em muito apreço a competência profissional, o sentido de família e o sentido cívico e as virtudes próprias da convivência social, como a honradez, o espírito de justiça, a sinceridade, a amabilidades, a fortaleza de ânimo, sem as quais também se não pode dar uma vida cristã autêntica”. Também lembra este documento que os leigos não poderão jamais ser testemunho cristão se não assumirem as características próprias do estado de matrimónio, de celibato ou viuvez, situação de enfermidade, actividade profissional e social, pois tudo se deve assumir, conforme as circunstâncias próprias em que se vive.
No mundo conturbado de hoje em que se torna bastante difícil distinguir a melhor orientação para vida da sociedade, sem excluir ninguém, é forçoso ter em conta a exigência baptismal que repete a cada um a palavra evangélica: “Que vantagem obterá o homem, se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?”
Nem sempre pelos séculos, os cristãos regularam as suas existências como hoje.
Recordemos a forma monástica dos beneditinos a desbravarem florestas e a cultivar os campos ou ainda a estudarem para melhor ensinarem os leigos a cumprirem os seus deveres no mundo. O ensino, género escolas primárias, não foi praticado por tantos monges não apenas para ajudarem os seus confrades mas ainda muitos jovens sem vocação religiosa?
No início da nossa nacionalidade, não lemos nas crónicas como frades e freiras se empenhavam em promover as pessoas que despontavam até para a vida governativa?
Era fácil, em tempos mais antigos, ir buscar um Ambrósio ainda por baptizar para bispo da sua cidade e converter, como foi realidade em Portugal, um bispo em rei.
Se consultarmos a história, encontraremos múltiplas lições de homens e mulheres levados para lugares jamais sonhados por força e exigência da sua espiritualidade pessoal.
A fome do Absoluto não habita somente nas casas religiosas mas também na simplicidade de uma vida realizada no mundo, nem a santidade mora apenas nos estados de consagração. Se, na Igreja de hoje, necessitamos de rezar pelos crentes mais empenhados nas coisas de Deus, não será para esquecermos os demais.

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