Promover a restauração da unidade entre todos os cristãos é um dos principais objectivos do Sagrado Concílio Vaticano II, pois Cristo Senhor fundou uma só Igreja
” – assim principia o Decreto sobre o Ecumenismo aprovado, a 21 de Novembro de 1964.
No cinquentenário deste decreto, passado, há pouco mais de um mês, lembrámos a vontade do Senhor Jesus bem manifesta na oração sacerdotal da última ceia: “Que todos sejam um, como Tu, Pai, em Mim e Eu em Ti; para que eles também sejam um em Nós, a fim de que o mundo creia que Tu Me enviaste”.
Agora, ao prepararmos o oitavário da Unidade, a dever celebrar-se, nos dias 18 a 25 próximos, com grande parte dos discípulos de Cristo, segundo uma tradição já alargada por muitas comunidades cristãs, sem nos desagregarmos do propósito indicado para trazermos à memória os trabalhos conciliares efectuados há cinco dezenas de anos, bom é que revejamos os ensinamentos expostos para todos nós.
A unidade apresentada pelo evangelista, deve efectivar-se na tríplice relação do conhecimento, amor e aliança recíproca e servirá de renovação eclesial não apenas a nível católico mas ainda segundo o intento de outras comunidades cristãs que também suspiram pela unidade e assim cumprirem o anelo de Jesus: “Que todos sejam um para que o mundo creia que Tu Me enviaste”.
Tal exemplo da junção dos discípulos de Cristo mesmo separados por facções de muita ou pouca razão será sinal da vontade de quererem viver na verdade divina e de agregar-se num só redil de Jesus.
Nos primeiros séculos, estava a unidade fundada sobre a rocha firme de Pedro, embora houvesse quezílias entre várias assembleias. Mas, consoante os tempos iam decorrendo, desequilíbrios e impulsos humanos foram separando os crentes, desorganizando o zelo da caridade, preferindo-se aqui e além verdades mais aprazíveis, segundo diferentes quereres pessoais, até se chegar à imagem hodierna de uma igreja dividida em variadas cisões mais ou menos profundas que se apresentam num mundo actual. São terríveis desinteligências que fazem classificar as comunidades dos sequazes do Senhor Jesus em grandes grupos como católicos, ortodoxos, protestantes e muitos outros agrupamentos menores a desmembrarem-se continuamente que longo seria enumerar, aqui no ocidente, sem nos referirmos às agremiações orientais.
Através da história de crentes perturbados com tantas divisões naturalmente opostas à vontade do Mestre divino, assistimos a esforços para repor o projecto do Senhor na sua autenticidade original. Muitas tentativas, porém, frustaram-se. Recorreu-se então ao poder divino implorado por inumeráveis e frequentes preces.
O oitavário pela unidade da Igreja, adoptado no ocidente mesmo por fiéis não pertencentes ao grémio católico (aliás tal movimento não nasceu por iniciativa de católicos) espalhou-se por muitas regiões e conseguiu até juntar na mesma prece adeptos de variadas comunidades, mesmo antes de começar o Concílio.
Quando este foi aprovando os vários documentos, houve uma coincidência interessante: na constituição sobre a Igreja, passava o dia 21 de Novembro de 1964, lia-se a preocupação dos Padres a desejarem para todos os povos e nações a união tão necessária para se cumprir em toda a parte a oração de Jesus: “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu Me enviaste”.
Desde então surgiram muitas declarações a tocar este assunto que começou a entusiasmas os Padres da Assembleia conciliar, em diferentes documentos. Retenhamos algumas: “A esta unidade católica do Povo de Deus, que prefigura e promove a paz universal, são chamados todos os homens: a ela pertencem ou para ela se orientam, embora de maneira diferente, tanto os católicos como todos os cristãos e mesmo todos os homens em geral, chamados pela graça de Deus à salvação”.
Mesmo depois de haverem declarado a necessidade e a força do ecumenismo, com insistência redobrada, somos levados a estudar esta matéria. Podemos continuar a respigar alguns pensamentos escritos nos documentos do Concílio: “Tendo já declarado a doutrina sobre a Igreja, movido pelo desejo de restaurar a unidade de todos os cristãos, ( o Concílio) quer propor a todos os católicos os meios, os caminhos e as formas com que eles possam corresponder a esta vocação e graça divina”.
Aprofundando os princípios católicos do ecumenismo baseado na vontade de Deus assumida por Cristo, os documentos que versam esta questão não deixam de falar ainda nas falhas praticadas pelos católicos, a fim de se emendarem e, deste modo, suscitarem a unidade e a paz..
O incitamento para todos colaborarem nesta obra de unificação da Igreja bem claro fica neste documento: “Hoje, em muitas partes do mundo, mediante o sopro da graça do Espírito Santo, empreendem-se pela oração, pela palavra e pela acção, muitas tentativas de aproximação daquela plenitude de unidade que Jesus Cristo quis. Este sagrado Concílio, portanto, exorta todos os fiéis a que, reconhecendo os sinais dos tempos, solicitamente participem do trabalho ecuménico”.
Para além destas recomendações, os Padres conciliares ainda olham com respeito para outras religiões como o islamismo, o judaísmo e ainda as velhas crenças do antigo Oriente. Como não há espaço para se explicar tal tema, ficará para a próxima vez.