Perante o egoísmo moderno onde ficará a família?

Num mundo em que o atractivo incontestável é o “eu” de cada um, tudo quanto pressagie ser o outro um valor basilar e primário, tendemos sempre a colocá-lo em segundo ou terceiro plano.

Ora o matrimónio, não se envolve apenas em individualismo pessoal, mas, sendo convivência entre duas pessoas, com previsão de alargar-se nos filhos, converte-se em assunto de comunhão e de sociedade, desde o seu início, deixando de ser um acto meramente privado. E como é princípio de novas vidas, há-de ser protegido pela ambiência comunitária e manifesto até em leis comunitárias.
Ora nem o marido nem a esposa se pertencem a si próprios. Uma vez casados são e vivem os dois, pois se entregaram reciprocamente e se tomaram à conta um do outro. Quando nascerem os filhos, ambos serão responsáveis pelas vidas incipientes com as quais terão convivência de amor, amparo, protecção, defesa.
Os cônjuges são responsáveis um pelo outro, pois resolveram construir suas vidas em conjunto, e ao terem filhos, hão-se ser solidários pelo futuro deles. Daí, iniciarem uma vida de responsabilidade comum mormente no cuidado atento ao futuro dos seus.
É com estes princípios, que a Bíblia ensina ser a família uma realidade sagrada.
Para efectivar essa sacralidade, foi acompanhada, desde a fundação, pelos auxílios divinos, elevados, com a vinda de Cristo, à escala de sacramento. Desta forma, a convivência matrimonial torna-se mais entrega perpétua, cada vez mais íntima e profunda, à medida que nela estão implicadas mais pessoas.
Assim, o casamento provoca e constrói não a realidade de coabitar no amor para si mesmo, mas existência de um conjunto, onde os outros terão a primazia, pois a sua união não será uma existência individualizada mas atinente aos demais.
Deste modo, se deve pensar e cumprir a objectividade de uma relação una e indissolúvel, na união original de homem e mulher e consequentemente na sua projecção vital para os filhos cuja existência se quer e aceita para formar uma corporação aberta ao prosseguimento da humanidade.
Assim, dar a vida será aceitar a responsabilidade pelos outros, prestando-lhes mais atenção que a si próprio e preocupando-se por eles mais do que por si. A colaboração fundamental num acto criador, que se vai repetindo pelos séculos, não se resume no momento generativo, pois, sendo assim, pertenceria ao reino da morte, mas à continuidade do viver. Deste modo, cada ser humano pertencerá aos pais não apenas no instante inicial mas ainda no encargo do seu desenvolvimento quer corpóreo quer formativo a qualquer nível, até à sua plenitude.
Ninguém poderá persistir sem os cuidados paternos, sob pena de raquitismo em todos os aspectos ou da própria morte.
Naturalmente que existirá uma correlação responsável entre o poder e dever paternos e o encargo de, à medida do crescimento, as crianças e adolescentes irem tomando conta de si mesmos, consoante as máximas do medrar.
Daqui, a família possuir o dever de se tornar realidade una e indissolúvel sempre vertida para o bem de cada e de todos os seus membros.
Só quem não compreende o ser e o realizar-se família e vai aderindo às ideias do egoísmo e às linhas de olhar apenas para o seu bem e não para os seus deveres, não tomará em conta as suas obrigações perante os outros, mormente se forem do seu sangue.
O evangelho ou boa nova a anunciar às famílias continua a ser uma prioridade hodierna na pastoral dos nossos tempos. Desde o Concílio Vaticano II, que versou este assunto, até aos nossos dias, sem esquecer os ensinamentos de Paulo VI, de João Paulo II, de Bento XVI e, agora, de Francisco, documentos importantes têm sido espalhados sobre esta matéria.
Já em 1980, houve um sínodo que versou este tema ao qual se seguiu a exortação sobre o consórcio familiar. Desde então, não faltaram intervenções pontifícias, a insistir sobre questões deste mote.
Agora marcado está para o ano um sínodo ordinário sobre a família, mas, devido aos problemas hoje levantados para os cristãos e o mundo em geral, o Papa convocou um sínodo extraordinário cuja preparação abrangeu uma consulta ao povo cristão terminada há poucos meses.
Da reflexão estudiosa sobre as respostas obtidas se compilou um resumo que se propõe como directório, base da discussão que se abrirá, no Vaticano, no próximo mês de Outubro. Seu título é: “Os Desafios Pastorais da Família no Contexto da Evangelização”. Está dividido em três partes que, por sua vez, se subdividem em diferentes capítulos: “Comunicar o Evangelho da Família hoje”. “A pastoral da família face aos novos desafios”, “A abertura à vida e a responsabilidade educativa”.
Conhecemos quantos problemas atingem a vida familiar e desejamos, com toda o esforço de alma, estar atentos aos seus remédios.
Saibamos abrir-nos ao ensinamento da Igreja baseado na palavra do Senhor: “Quem vos ouve a Mim ouve, quem vos despreza a Mim despreza” que, conforme acreditamos, nos dará uma exposição actual e fresca deste assunto que se revestiu de graves dúvidas nos nossos dias.

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