Há muito tempo que foram entregues aos fiéis seguidores de Cristo algumas questões, como preparação para o terceiro sínodo extraordinário acabado de celebrar, no dia dezanove último.
Uma vez coligidas as respostas e estudados os problemas aí descobertos, reuniram-se os sinodais não apenas bispos mas ainda outros clérigos e alguns religiosos e até leigos mesmo casados, para, com suma liberdade, exporem o seu parecer individual ou colectivo assumido nas comunidades que procuravam representar.
Logo, no início, o Papa Francisco definiu o espírito de colegialidade própria da reunião que se começava, onde cada qual deveria expor, com clareza e lisura, quanto pensava no seu íntimo. “É necessário dizer tudo aquilo que, no Senhor, sentimos que devemos dizer; sem hesitações, sem medo. E ao mesmo tempo, é preciso ouvir com humildade e aceitar de coração aberto aquilo que os irmãos dizem”.
Infelizmente, nos nossos dias, os membros da família, mercê da mentalidade individualista e propensa ao hedonismo, a buscar continuamente o bem individual e o prazer outorgado pela vida, sem se importarem com os direitos dos outros ou com os deveres pessoais sugeridos pela sã consciência, estão frequentemente buscando o interesse e o prazer individuais. Depois, como o agregado familiar se compõe normalmente por esposos e filhos e o ambiente não se alicerça no amar e servir os demais, destrói-se facilmente a unidade com separações, aniquilando-se a estima devida aos filhos, implementando-se o desinteresse pelos componentes do lar e gerando-se a indiferença quando não o desprezo de quantos formavam a parentela. Isto, porque a verdade moral não se respeita e sujeita-se ao capricho e gosto pessoal.
A ilustração moderna dos homens pretende superar a própria verdade divina e julga poder mandar na mesma realidade das coisas, sujeitando até a sua realização aos caprichos de momento.
Ouvimos demasiadas opiniões sobre a família, no contexto do último sínodo extraordinário. Os armados em corifeus da mentalidade pública, falando como detentores da sabedoria, proclamam autênticas aberrações não apenas quanto à doutrina natural e aos costumes normais das gentes mas ainda na senda da moral prática.
Se, a nível mundial, assistimos a mudanças estranhas não só em práticas nada habituais, como a união homossexual ou a recusa de filhos para jamais diminuir o amor recíproco dos esposos, ou o fomento de praxes consideradas detestáveis como o abandono dos descendentes, quantos se julgam discípulos da Verdade vêem-se na obrigação de repudiarem tais posições para colocarem a humanidade no seu justo lugar.
Ora a família continua a merecer o nome de instituição privilegiada no contexto social, na área do amor, da natalidade, da socialização, do ensino, da continuidade da espécie e torna-se urgente propagar a sua verdadeira realidade e preparar os futuros esposos e filhos para uma integração perfeita, num efectivo e responsável amor recíproco.
Para encetar uma nova cruzada que dignifique a família, realizou-se o terceiro sínodo extraordinário que versou sobre este tema.
Como preparação de tal evento, procedeu-se a uma consulta geral sobre a mentalidade dos homens de hoje acerca da família. Uma vez coligidas as respostas, fez-se o anteprojecto, a preparar convenientemente para discussão que se realizou em Roma, nas duas primeiras semanas de Outubro, no terceiro sínodo extraordinário.
O Papa Francisco, logo no início da grande assembleia, apontou as atitudes a ter durante os debates: dizer tudo o que, no Senhor, se sinta que se deve dizer, sem hesitações nem medo, e ainda escutar humildemente, com o coração aberto, tudo quanto dizem os irmãos.
Desta forma correu a reunião sinodal, onde apareceram distintas opiniões, nem sempre muito desiguais, pois frequentemente a linguagem usada não era uniforme.
O lugar ocupado pelos leigos foi bastante encorajador e ainda mui apreciado, já que a matéria proposta era, tantas vezes, uma vivência do seu próprio existir como pessoas comprometidas com as realidades em debate.
Muitos problemas não terminaram as questões, embora se tratassem longamente e com muito à-vontade.
Ficará este sínodo extraordinário como prelúdio do próximo, já anunciado para 4 a 25 de Outubro de 2015, sob a denominação: “A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo”.
Assim se exprimiu o Papa: “Agora temos ainda um ano para amadurecer, com verdadeiro discernimento espiritual, as ideias propostas e encontrar as soluções concretas para tantas dificuldades e incontáveis desafios que as famílias têm de enfrentar”. Por isso, o debate sobre a situação da família irá continuar, nos próximos meses, até à realização da assembleia geral do próximo Sínodo, com três semanas de trabalho, no próximo Outubro.
Como na assembleia terminada a 19 último não se realizou um referendo mas um debate, forçoso é aguardar a próxima assembleia sinodal para abrir mais o leque dos problemas efectivos com que se debatem os casais: papel mais relevante da mulher, o valor social da família, a importância dos avós, lugar da igreja doméstica na acção missionária, a exploração sexual com a pornografia e a prostituição e muitas mais questões que afectam hoje o bem-estar e a promoção dos casais e respectivos filhos.
Ficamos a saber da necessidade de que a Igreja anuncie, sem desânimo mas com profunda convicção, o ‘Evangelho da Família’ que lhe foi confiado por Jesus Cristo.