Laudato si – louvado sejais – assim começa a segunda encíclica do Papa Francisco que principia por citar um cântico célebre de São Francisco de Assis
no qual é celebrada a grandeza de Deus espargida pela criação e o seu amor pelo homem, objectivo último da obra maravilhosa do Criador, ‘a nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa”, conforme cantava o santo de Assis.
Apoiado nas formas do Povorrello que envolviam tudo no amor, a fim vermos aí, à maneira daquele místico da Idade Média, uma chamada à fraternidade universal entre todas as criaturas, o Papa traça a finalidade das obras criadas para aí encontrar o coração de Deus nessa grande prova de bondade em ordem àqueles que fez reis da terra inteira.
Nesta perspectiva, o Pontífice deseja unir toda a humanidade e nela, o conjunto das obras da criação, a fim de jamais serem destruídas ou arruinadas, mas fruídas para bem até das gerações futuras. Com o propósito de atingir tal objectivo, o Papa, logo no início da sua mensagem, escreve: “Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos a construir o futuro do Planeta”.
Desejando esquematizar os grandes problemas surgidos sobretudo nos últimos séculos, abre, assim, o seu intento: “Em primeiro lugar, farei uma breve resenha dos vários aspectos da actual crise ecológica, com o objectivo de assumir os melhores frutos da pesquisa científica actualmente disponível, deixar-se tocar por ela em profundidade e dar uma base concreta ao percurso ético e espiritual seguido”.
Assim, o documento não será um tratado cientifico sobre ecologia mas apenas uma orientação moral com o intuito de apontar o lugar específico do ser humano no conjunto da criação e sugerir os deveres de todos em relação à natureza e, neste âmbito, entender a economia e o progresso e olhar a responsabilidade da política internacional e local.
Para tanto, necessário se torna conhecer o ambiente que nos rodeia, o modo actual do tratamento das coisa criadas para manter o seu equilíbrio, a sua utilidade universal e também a sua beleza.
Que pensar da poluição produzida pelos resíduos? Como resolver o problema dos lixos? A falta de água, a perda das florestas, a extinção de tantos seres vivos trazem bastantes questões cuja solução deve ser reflectida e ponderada com sabedoria e senso, para produzir resultados comprometedores para o futuro.
A casa onde moramos não pode ser destruída nem mesmo escangalhada. Tudo quanto existe à face da terra foi criado para a humanidade que está dando conta do esgotamento num e noutro lugar do orbe, sempre a estrangularem as suas riquezas, corrompendo o seu desenvolvimento.
Para chamar a atenção da humanidade, o Sumo Pontífice publicou, há dias, a advertência que, embora dirigida sobretudo aos católicos também quer abarcar as outras religiões e mesmo as pessoas sem fé, para todos poderem salvar o nosso mundo de uma terrível catástrofe, pois os males universais vão afectando todos os seres vivos e mesmo os minerais.
A questão da água, a perda da biodiversidade, a perigosa mudança do clima, a deteriorização da qualidade de vida humana, a degradação da vida social, a desigualdade planetária, mesmo no aspecto económico e de vida são fenómnos que nos vão atingindo, talvez pouco a pouco, mas que precisam da nossa atenção e análise.
Somos responsáveis por muitos fenómenos que vão influindo nas leis da terra, pois somos responsáveis por quanto vai sucedendo, por causa dos nossos caprichos e preguiça de não analisarmos os acontecimentos nem estudarmos suas causas.
E estas considerações não podem esquecer-se, quando não, é possível que venhamos a ter de pagar as consequências das nosas desatenções.
O futuro, em grande parte, é construído por todos nós. O bem comum obriga-nos a prever as consequências dos nossos actos de agora. A responsabilidade é nossa, não apenas individual mas colectiva. Será uma questão de justiça para com as gerações futuras. Não poderemos destruir nem escangalhar a nossa casa comum.
Para cumulo, as classes humildes e menos protegidas serão as primeiras a suportar os desastres. Por isso, todo o cuidado é pouco. A harmonia entre o homem e tudo quanto o rodeia deve ser protegida. Para tanto, a educação ecológica neste ponto deve ser tomada a sério.
A encíclica vai terminar com estes conselhos e ainda com duas orações: uma pela nossa terra, a outra em união profunda com a criação, onde os pobres devem ser lembrados constantemente, pois são a classe mais necessitada do mundo inteiro e por isso deve ser mais protegida.