Num mundo eivado de individualismo, amassado em teorias variáveis e contingentes, conforme o gosto e o desejo do momento,
buscando-se continuamente o bem-estar e o prazer, num conforto regalado, sem se importar com a felicidade e progresso dos outros, torna-se muito difícil educar no amor, tendo em vista o bem dos demais, porque o egoísmo individual e mesmo colectivo das famílias emperra, logo no início do processo, a energia de alma e o esforço sempre necessário para uma adequada formação.
Por isso, desde o Concílio Vaticano II, a Igreja vem chamando a atenção de seus fiéis e dos homens de boa vontade para o momentoso problema da reconstrução duma terra agradável, onde todos se possam encontrar muito à-vontade, embora, como não pode deixar de ser, com o sacrifício de uma acção contínua.
No decreto sobre a Educação, os Padres conciliares não deixaram de chamar a atenção para a urgência e necessidade de jamais descurar este dever próprio dos pais, das famílias, dos Estados e de toda a sociedade. Lembram as facilidades hodiernas postas modernamente à disposição de quase todos os indivíduos, os diferentes aspectos que englobam esse labor individual e colectivo, atinente ao corpo e a espírito, relativo às faculdades intelectivas e espirituais e apontam os deveres e direitos próprios segundo as diferentes classes de educadores.
Para os pais vão estas palavras: “Lembra, porém, aos pais o grave dever que lhes incumbe de tudo disporem ou até exigirem para que os seus filhos possam gozar de tais auxílios e progredir harmonicamente na formação cristã e profana”.
Deixadas as citações conciliares que são numerosas e profundas, não esqueçamos as intervenções de São João Paulo II, sobretudo no Ano Internacional da Família onde define o seu conceito sobre educação e o resume na ideia que constantemente espraia, nos seus escritos, afirmando que a civilização do amor não pode construir-se sem uma cultura conveniente. Aí podemos ler: “O Evangelho do amor é fonte inexaurível de tudo quanto nutre a família humana como ‘comunhão de pessoas’”.
Além dos apontamentos já citados e dos inúmeros conselhos na doutrinação habitual do Chefe da Igreja, as Comissões Episcopais da Educação Cristã e Doutrina da Fé de muitas nações, no início do ano escolar, costumam anotar algumas directivas, focando um ou outro aspecto dos incontáveis problemas colocados aos educadores sejam eles os pais, as famílias, a sociedade em geral, a Igreja, os Estados.
No princípio deste mês de Setembro, a respectiva comissão portuguesa enviou uma Nota Pastoral, com o título: “Educar na Alegria da Fé”, para nos chamar a atenção dos deveres de todos, a fim de conduzir-se esta tarefa, que jamais deverá esquecer-se, para a perspectiva correcta do trabalho e função educativos.
Sendo o Evangelho a fonte e a base de qualquer actividade cristã, inspirando-se na Exortação Apostólica “A alegria do Evangelho” do Papa Francisco, a Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé, afirma: “Reconhecemos como é hoje importante que a educação cristã tenha a marca da alegria”. E explica-se tal pensamento, afirmando que o ambiente humano é hoje cheio de extremo desânimo, tristeza, pessimismo e resignação derivados do forte particularismo existente na sociedade e do consumismo de tantas actividades onde abundam os divertimentos, as distracções, os interesses imediatos alienantes da vida real que vai fechando as pessoas ao dever da solidariedade e da preocupação pelos outros, aumentando mais e mais o isolamento individual.
E continua a Nota, repetindo ser a palavra de Jesus fonte de gozo e paz, a empurrar-nos constantemente para derramarmos por toda a parte o gozo, a concórdia, a harmonia fraternos. “Este é o caminho que leva à responsabilidade, ao sentido da missão, ao gosto de viver”.
Claro que não iriam esquecer os nossos bispos o dever de apontar os agentes mais directos de toda a tarefa educativa hodierna: os pais e avós, Eles, prosseguindo nesta dedicação, continuarão a ser atingidos, neste múnus, pela obrigação de darem exemplo e assim crescerão também na virtude e na fé.
Para além destes agentes, recordam serem os professores com suas escolas, forças colaboradoras deste honroso serviço e a comunidade cristã tomada no seu conjunto. Pela catequese, liturgia, piedade popular e sobretudo pela experiência ambiental do bom comportamento dos crentes que se guiam pelo exemplo de Jesus, as comunidades cristãs prestarão aos seus irmãos um ambiente acolhedor e um clima propício à probidade e à rectidão.
Num ambiente cristão efectivado na alegria forte e segura, também as crianças e os jovens se deixarão contagiar pelo carinho, estima e ternura vividos ao seu lado. O exemplo de uma comunidade fervorosa e cumpridora de seus deveres será o esteio mais eficaz a fazer caminhar para a alegria dada pelo mesmo Deus que nos amou até ao fim.
A vivência perfeita da comunidade crente despertará, no íntimo dos educandos, vigor e entusiasmo com a finalidade de seguirem os exemplos vividos no seu ambiente. Seguir-se-á a vivência de uma conduta generosa alegre, pacífica, tranquila e equilibrada, apesar dos múltiplos sacrifícios exigidos pelo cumprimento dos deveres quotidianos e pelas circunstâncias difíceis de todo um ambiente hostil, quando ele mora connosco.