As merendas da Páscoa e da Pascoela
As festas das merendas ainda marcam o ritmo do tempo, em muitas aldeias da região da Guarda, na segunda-feira a seguir à Páscoa bem como na segunda-feira de Pascoela. O farnel, bem recheado com as melhores chouriças, presunto, queijo e pão centeio, fazia parte da indumentária. Era um gosto ver estender as mantas de farrapas no lajedo ou nos prados onde as flores e a erva anunciavam a Primavera. As arrematações eram renhidas e ninguém queria perder a oportunidade para fazer valer a oferta mais choruda. Do cesto das promessas iam saindo os melhores e mais vistosos produtos oferecidos como forma de bênção e acção de graças pela produtividade das sementeiras. Os carros de bois, enfeitados a preceito, também caminhavam para as festas, cheios da alegria e da algazarra das crianças. Eram tempo de grandes vivências e de uma fé inquebrantável a que se juntava o convívio à volta da merenda sempre bem regada com o tinto de produção caseira. Por entre comes e bebes e muita animação lá se cantava ao Senhor Santo Antão, à Senhora da Granja, à Senhora da Graça ou à Senhora dos Prazeres. Agora ainda há a festa das merendas mas, com o passar do tempo, deixou de ter o encanto de outros tempos. Já são poucos os que ainda cevam o porquito e menos os que se dão ao trabalho de fazer enchido. As tão cobiçadas chouriças do azeite tornaram-se uma raridade e os cestos das arrematações quase desapareceram. Os afazeres dos tempos modernos alteraram hábitos e tradições e agora é muito mais fácil correr para as grandes superfícies de consumo e comprar tudo prontinho a comer. Também nos hábitos alimentares somos cada vez mais iguais, nesta aldeia global em que se se tornou a humanidade. Mas que não tem o mesmo sabor e encanto, lá isso não tem.