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A salvação vem dos judeus

Depois de Jesus Cristo ter afirmado à Samaritana esta palavra: “a salvação vem dos Judeus”, os Apóstolos guiados por esta verdade a repetem, enquadrada nos seus escritos: 

“A aliança, a legislação, o culto, as promessas vêm dos judeus”,  “Deles é a adopção filial e a glória, a aliança e a legislação, o culto e as promessas; deles os patriarcas e deles nasceu, segundo a carne, Cristo”. Podem-se acrescentar mais expressões, segundo o mesmo pensamento, a garantir e alargar a mesma ideia.
No último concílio, asseverou-se idêntica declaração, num tom mais claro e aplicável à fé dos crentes: “A Igreja não pode esquecer que foi por meio desse povo com o qual Deus Se dignou, na sua inefável misericórdia, estabelecer a antiga aliança, que ela recebeu do Antigo Testamento”.
Apesar de tais palavras bíblicas, as vicissitudes históricas, donde não estão isentas circunstância políticas e sociais, geraram, na cristandade, tão grande fobia e aversão para com o povo eleito que foi necessário, para mudar o ligâmen e a convivência, registar, nos textos conciliares, estas palavras: “Sendo tão grande o património espiritual comum aos cristãos e aos judeus, este Sagrado Concílio quer fomentar e recomendar entre eles o mútuo conhecimento e estima, os quais se alcançarão sobretudo por meio dos estudos bíblicos e teológicos e com os diálogos fraternos”.
As fontes da liturgia dos seguidores de Cristo radicam-se, em muitos sentimentos e facetas, nas orações do Antigo Testamento. Ainda hoje, os cristãos continuam a rezar muitas aclamações e preces judaicas tiradas ao Antigo Testamento, pautando ainda os tempos da sua liturgia diária pelas horas habituais de Israel.
Até o Senhor compôs o Pai nosso, inspirando-se nas vozes tantas vezes proclamadas nas reuniões dos israelitas piedosos.
As festas marcadas pelo ritmo anual e as praxes de sábado têm muito que ver com as formas habituais da piedade de Jerusalém. A Páscoa, o Dia da Expiação, as bênçãos surgidas nos acontecimentos familiares ou nas horas diurnas ainda preservam muitos sentimentos da prática judaica.
Não é novidade para ninguém afirmar que Jesus é judeu nascido numa família israelita cuja educação se pautou pelos pilares, maneiras e regras do seu tempo.
As motivações e as fórmulas das nossas rezas copiam frequentemente seus estilos e sentimentos da piedade vinda do Sinai. A confissão de que há um só Deus insere-se na história da libertação do Egipto e nos acontecimentos do monte santo em cujo sopé o povo, por entre relâmpagos e trovões, deu início ao seu estatuto religioso monoteísta e submisso aos preceitos da Lei.
É claro que as cerimónias inauguradas por Jesus Cristo sobretudo a divina Eucaristia não nascem de costumes judaicos mas inspiram-se em praxes bastante parecidas, desde o baptismo até à ceia pascal. Os sacrifícios do templo imbuídos de recordações e memórias de factos vividos pelos hebreus irão dar o tom para as comemorações do ano litúrgico.
Tudo isto se lembra, nas vésperas de iniciarmos o Advento que nos recorda os acontecimentos preparatórios para a vinda do Salvador e pretende que os cristãos aprofundem mais e mais o sentido das relações com Deus Uno e Trino e com toda a humanidade, afim de, por sua parte, os viverem mais santamente.
Se estas quatro semanas nos apontam a chegada do Senhor ao nosso mundo, temos de lembrar ter sido o povo judaico, o ambiente, onde se realizou a incarnação do Verbo.
No contexto da história, quem mais e melhor foi acompanhado por Deus para se predispor a receber o Desejado das Nações, num gesto de disponibilidade aberta, tornando-se para toda a terra o modelo e padrão foram os hebreus. Tornaram-se para quantos se dispuseram a acolher o dom e o favor divinos exemplos e normas.
Evidentemente que não se aprovam as faltas e fraquezas humanas acontecidas na sua história, mas, até, nesses eventos de infidelidade; se podem observar a misericórdia, a clemência e compaixão divinas, para sabermos como é o acolhimento divino para os nossos defeitos e culpas.
Nos profetas de Israel, nos tempos preparatórios do Natal, contemplaremos as belezas morais e as acções maravilhosas dos profetas e almas santas da casa de Israel sobretudo de João Baptista e da Virgem Maria. Estes prepararam com sua conduta na perfeição os caminhos do Senhor que anunciaram e prepararam o povo, segundo ordenava a palavra divina.
A liturgia cristã pretende reaver e restaurar os sentimentos espirituais do primeiro povo eleito e continua aperfeiçoando, de dia a dia, a sua compreensão e prática espirituais em ordem a receber Jesus.
Se passarmos, em relance, os costumes piedosos dos judeus de hoje desde o ensinamento dado aos filhos, segundo a tradição, até aos ritos ainda guardados nas grandes festas, sem esquecer o vestuário, as saudações e outros cerimoniais no viver dos dias consagrados a Deus, de uma forma especial, saberemos que o povo de Israel conserva, em vários aspectos do seu porte, os costumes religiosos antigos.
Apoiado nestes factos e mantido pelo conhecimento do agir divino, escrevia aos Romanos, afirmando que “os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento”, por isso, “eles terão ainda misericórdia no tempo presente.
O Senhor prepara os dias da sua conversão – recorda ainda o Concílio.  

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