Desde os primeiros séculos do cristianismo, a Igreja reconhece que o principal mistério nascido da vinda de Jesus à terra, marcando a sua finalidade, foi a redenção do género humano através da morte salvífica do Senhor, atestada pela sua gloriosa ressurreição.
Deste acontecimento sobrenatural que, ao mesmo tempo, envolve a natureza humana, deduziram os crentes a certeza que estão salvos em Cristo. Por isto, as cerimónias litúrgicas mais solenes e mais vividas de sempre foram o memorial onde se comemora a morte e ressurreição de Jesus. Ainda hoje as principais e básicas festas do culto dos seguidores de Cristo são os ritos da semana santa.
Nada de admirar que o Concílio Vaticano II, ao introduzir a reforma litúrgica actual, haja proposto um modelar intento, em ordem à via cristã e afirmasse: “Nesta reforma, proceda-se quanto aos textos e aos ritos, de tal modo que eles exprimam, com mais clareza, as coisas santas que significam, e, quanto possível, o povo cristão possa mais facilmente, apreender-lhes o sentido e participar neles por meio de uma celebração plena activa e comunitária”.
Se a morte e ressurreição são celebradas no dia de Páscoa (pense-se este dia ter sido alargado para dar uma única unidade no conjunto de sexta-feira a domingo de Páscoa – Cristo morto, sepultado e ressuscitado). Assim, este tríduo será a solenidade mais importante e frutuosa de quantas se realizam no ano litúrgico.
Daqui, ter sido, desde sempre, sua preparação mui bem orientada, a fim de realizar nas almas os frutos da incarnação de Deus.
Nessa perspectiva, lemos a passagem da Constituição sobre a Liturgia: “Ponham-se em maior realce, tanto na liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação ou preparação do Baptismo e pela Penitência, preparar os fiéis, que devem ouvir com mais frequência a Palavra de Deus e dar-se à oração com mais insistência, para a celebração do mistério pascal.”
Deste modo, os preparativos para a celebração pascal transformam-se em tempo propício com o intuito de nos deixarmos impregnar por Cristo e, assim, nos tornarmos iguais a Ele.
Apoiados nestas afirmações, os últimos papas foram enviando a todo o povo crente algumas mensagens, a fim de o guiarem para uma vida espiritual mais autêntica e válida.
Este ano, o Bispo de Roma colocou na sua recomendação, um conselho oportuno em ordem a estimular os fiéis a uma vida mais cristã, resumindo-a num ensinamento sobre uma ideia generalizada que se vai alastrando pela mentalidade hodierna.
O homem moderno, pretendendo viver apenas segundo o seu gosto e talante, construiu a sua ideologia própria que o torna senhor exclusivo do seu pensar moral, tornando-o assim dono dos critérios dos seus actos e único juiz de suas acções morais deste modo as normas orientadoras de suas posturas são apenas o seu interesse e conveniência. Fazer isto ou praticar aquilo, mesmo coisas discrepante, será indiferente. Corrompa-se e desvirtue-se a ideologia será conforme a conveniência.
A tal atitude dá-se o nome de indiferença, isto é, a insensibilidade diante do dever, ou de qualquer regra moral deste modo estará sempre à-vontade para seguir seus apetites e desejos.
Definindo o crente como “aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia – assim escreve o Papa – para se tornar como Ele, servo de Deus e dos homens, aponta-lhe o caminho do exemplo de Quem Se baixou diante dos Apóstolos para os servir, lavando-lhes os pés (acção demasiado humilhante nesse tempo.
Assim longe de se deixar persuadir pela mentalidade ambiente, tem de se juntar a quantos fazem um único corpo em Jesus Cristo.
Viver-se-á, deste modo a comunhão dos santos na unidade do amor que não no egoísmo que o arrastaria sempre para o reino do seu desejo a tornar-se no seu bel-prazer.
Esta é a primeira razão apresentada.
Segue-se outra razão cristã, firmada na fraternidade da mesma família na qual o Senhor firmou todo o género humano. Deste modo, se os homens se tornaram irmãos uns dos outros, haverão de dirigir seus actos para bem de toda a humanidade, deixando de viver para as sua conveniências para se tornar servidor dos outros.
Continuando a olhar o exemplo de Cristo, perante os outros a nossa atitude só tem um espelho a tornar-se exemplo para os discípulos, a figura de Jesus: “Como Eu fiz assim vós deveis fazer”. Daqui o sentido dos pobres no viver cristão.
Termina o Santo Padre a pedir mudança de coração, para nos tornarmos misericordiosos e compassivos e, deste modo, desejarmos a pobreza do íntimo para conseguirmos a caridade generosa em ordem ao socorro e auxílio dos outros, sem se deixar fechar em si, tornando-se a medida dos seus actos.
É para obviar a tudo isto que a quaresma aponta uma regra repleta de contemplação do actuar de Cristo, cheia de oração e calcada no sacrifício do jejum e abstinência.