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Queijos de ovelha pelo método tradicional em Videmonte

Queijeira vende para o país e para o estrangeiro
Queijos de ovelha pelo método tradicional em Videmonte
Maria Alcina Correia, de 42 anos, é queijeira em Videmonte, no concelho da Guarda, e os queijos que saem das suas mãos são vendidos para todo o país e também para o estrangeiro.
A queijeira, que aprendeu a arte com a mãe, construiu uma queijaria em 2002 e é a única produtora da Freguesia de Videmonte, que possui uma unidade licenciada. “Sou queijeira desde sempre. Já fazia isto em casa dos meus pais, casei com um pastor e continuei. Em 2002 abri a queijaria. Até essa altura fazia queijo em casa, como faz a maioria das pessoas”, contou ao Jornal A Guarda.
A queijeira, que faz queijos tradicionais com leite de ovelha (leite cru, sal e cardo), queixa-se das burocracias associadas à produção e da pouca rentabilidade do negócio, no entanto, não se imagina a fazer outra coisa. “Neste momento, vendo o queijo ao mesmo preço de 2002 e as coisas sobem cada vez mais”, queixa-se, indicando que o quilo é vendido a 13,5 euros. Maria Alcina Correia orgulha-se de ter clientela certa que lhe compra o queijo “à porta”. “Eu vendo o queijo todo à porta, não vou com ele a lado nenhum. Vendo para todo o país e para o estrangeiro. Os emigrantes em França até me pedem para lhes mandar queijo pelos transportadores”.
A queijeira nunca optou pela certificação do queijo que produz, segundo o método tradicional, por admitir que a certificação lhe iria “tirar os clientes”, porque “por cada quilo de queijo teriam que pagar mais 5 euros”. “Já tive várias propostas, mas no meio em que vivemos, ninguém me pagava nada, por isso desisti da ideia. A certificação está fora de questão, porque a crise chega a todos. Se calhar era uma mais-valia para afirmar a qualidade, mas não tenho problemas a nível de vendas”, justificou.
A produção anual de queijo está dependente das condições climatéricas, explicando a mulher que este ano, por exemplo, começou a campanha com uma produção média diária de 8 queijos e, depois, devido à chuva, passou a fazer só 4. O leite que labora é do próprio rebanho, com 130 cabeças, que é diariamente pastoreado e cuidado pelo marido. “O leite é todo para queijo”, adiantou.
Apesar de os custos com a produção terem aumentado e de os proveitos serem cada vez menores, a queijeira de Videmonte não está arrependida da profissão, mas confessa que gostava que as duas filhas não seguissem as suas pisadas: “É uma vida muito pesada”, diz, lembrando que não tem fins-de-semana nem férias. Quando não está a fazer o queijo está a cuidar do rebanho, da recolha de alimento para o inverno, e das sementeiras agrícolas. “Só tenho uma semana de férias no ano e é para ir a Fátima a pé. Já o faço há 13 anos”.
A queijeira faz queijos diariamente a partir de leite acabado de ordenhar. “O leite chega à queijaria e fica a coalhar durante cerca de uma hora. Depois faço o queijo e coloco-o em alguidares. No topo coloco sal e fica a repousar até à noite. À noite tiro-lhe o acincho e ponho-lhe sal em volta e no outro lado. De seguida vai para a camara de frio, onde é virado todos os dias. O queijo fica entre 15 a 18 dias, sem ser lavado. Depois, fica mais 15 dias e leva a cinta à volta. Depois de ser novamente lavado passa para outro compartimento onde fica à temperatura ambiente. Leva o rótulo e sai para o cliente”.
A proprietária da única queijaria licenciada de Videmonte lembra que o processo inicial do projecto foi muito difícil “porque exigiram demasiadas coisas”, mas agora já não se “imagina” a fazer o queijo em outro local. “A vida está muito difícil, mas eu gostava de continuar com a queijaria, porque no ano passado estava determinada a acabar com ela por causa das burocracias e dos custos de funcionamento”, disse.
Para ajudar a divulgar os produtos locais e o sector da agricultura e da pecuária, a Junta de Freguesia de Videmonte promoveu, no domingo, dia 15 de Junho, a 1.ª Feira de São João Baptista, que integrou exposições de ovinos, de caprinos e de máquinas agrícolas e uma palestra sobre agricultura familiar. “Esta iniciativa faz muito bem à nossa aldeia, porque ainda estamos muito ligados à agricultura. Pelas minhas contas a Freguesia tem mais de mil cabeças de gado e uma média de 60 tractores agrícolas. Precisamos é da ajuda de alguém que está mais alto e que possa puxar um bocadinho por isto”, concluiu.

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