É Natal
Jesus nasceu em Belém, no seio de uma família que não teve lugar na cidade.
E Ele era o Filho de Deus, o Salvador anunciado pelo coro dos anjos aos pastores que, também fora da cidade, pernoitavam com os seus rebanhos pelos descampados da região.
Jesus nasceu, de facto, no seio de uma família que espelhava o amor de Deus.
E continua a ser verdade que o amor de um homem e de uma mulher que se escolhem um ao outro, o amor de um pai e de uma mãe comprometidos a viver a total comunhão das suas vidas são condições indispensáveis para uma criança nascer e se desenvolver até atingir a plena maturidade humana.
A família feita da complementaridade entre homem e mulher, pai e mãe, filhos e irmãos e mesmo mais alargada é a primeira escola de vida e de relação social. E sem esta escola as outras não podem cumprir a sua missão.
A experiência, porém, diz-nos que este desígnio de famílias estáveis e com relações fortes entre todos os seus membros nem sempre se cumpre, o que constitui grande prejuízo para os próprios e para a sociedade.
Mais ainda, sabemos que, quando isso acontece, as pessoas sofrem e muito. O Natal convida-nos também a estarmos próximos destas situações de sofrimento, acompanhando as pessoas e ajudando-as a irem até onde puderem no exercício das suas responsabilidades familiares.
O Presépio diz-nos que Jesus nasceu fora da cidade, porque lá não havia lugar para Ele. E os primeiros a visitá-lo foram também aqueles que viviam fora da cidade, os pastores, escolhidos para serem os primeiros a quem foi anunciado o nascimento do Salvador. Disse-lhes o anjo: Anuncio-vos uma grande alegria. Hoje, na cidade de David, nasceu o Salvador.
E eles, sendo pobres que não tinham negócios para tratar nem riquezas para guardar, partiram apressados e alegres ao encontro do Salvador.
O caminho da humildade e da opção pelos mais pobres foi o caminho de Jesus e continua a ser o caminho dos seus discípulos para cumprirem no mundo o mandato de evangelizar recebido de Cristo.
Por isso, ser comunidade em saída para as periferias, qual hospital de campanha, sempre no terreno, para atender os que mais precisam utilizando palavras do Papa Francisco, é o nosso estatuto de Igreja e de cristãos.
Por sua vez, as obras sociais que a Igreja tutela, prestando embora valiosos serviços na construção e reconstrução do tecido humano e comunitário, têm de ser mais do que IPSS. Têm de ser expressão da caridade generosa, do amor e do serviço desinteressado dos outros, segundo o espírito do Evangelho.
Onde houver pessoas a necessitar de ajuda, enquadrada ou não nas situações tipificadas pela tutela pública de acção social, nós queremos estar lá, para responder dentro das nossas possibilidades. E este é grande imperativo do Natal.
Vivemos o Natal entre dois sínodos sobre a família.
Que este Natal de Jesus nascido em Belém lembre a todas as nossas famílias que elas são, antes de mais, o santuário da vida e do amor, qual Igreja doméstica que pretende viver e espelhar para o mundo a bondade e a ternura sem limites do próprio Deus.
Que este Natal possa lembrar também à nossa sociedade e à própria cultura dominante que o propósito de criar condições de vida digna aos cidadãos passa pela defesa dos direitos das famílias e seu correcto enquadramento legal.
Boas festas, diante do Presépio de Belém.
Guarda, 11 de Dezembro de 2014.
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda