Iniciamos o novo ano pastoral com as grandes interpelações que nos deixou o Papa Francisco, durante os 5 dias que esteve entre nós, para presidir à JMJ.
No dia 2 de agosto, encontrou-se, no Mosteiro dos Jerónimos, com Bispos, Sacerdotes, Diáconos, Religiosos, Religiosas e representantes dos diversos ministérios que servem as nossas comunidades.
Lembrou-nos que somos uma Igreja com a face desfigurada pelos escândalos; mas isso, longe de nos fazer desanimar, antes nos deve motivar na procura de novos caminhos, para seguirmos em frente.
E partindo da passagem bíblica do barco açoitado pelas ondas, com risco de se afundar, convidou-nos a navegar forte para o mar da evangelização, a proclamar o evangelho com novo ímpeto, num mundo, quantas vezes, em trevas.
De facto é num mundo assim, em permanente mudança cultural e social, fortemente marcado pelo secularismo e pela crescente indiferença, que somos convidados a testemunhar os valores interpelativos do Evangelho.
Reconheceu que vivemos hoje tempos difíceis, mas confrontou-nos com o grande desafio que o mesmo Senhor dirige à Igreja e a cada um dos seus membros, nos seguintes termos: “Queres deixar o barco e mergulhar na desilusão ou queres deixar-me entrar e aceitar a novidade da minha presença e das minhas palavras? Queres só preservar o passado que ficou para trás ou abrir caminhos novos, com entusiasmo?”.
Ao Povo Português, com a história e o património que lhe são próprios, desafiou-o a sair, de novo, das suas fronteiras, não para conquistar o mundo, mas para o confrontar com a alegria do Evangelho.
Reconheceu que o cansaço e o desencanto são, quantas vezes, realidades bem sentidas nas nossas vidas, que afetam o zelo apostólico, com a tentação de nos acomodarmos e passarmos a ser meros administradores do sagrado. É esta uma tentação que temos de saber vencer, regressando ao encanto de quem se deixa, de novo, seduzir pelo Senhor.
Perante o afastamento da prática da Fé, a resposta que precisamos de dar começa no reforço das relações com o Senhor, procurando novos caminhos para o seguirmos mais de perto. Cumpre-nos testemunhá-lo neste nosso mundo, quantas vezes desiludido com certos comportamentos que se verificam no interior da Igreja.
A propósito, o Papa chamou de novo à nossa consideração “o desapontamento e mesmo a raiva com que algumas pessoas vêem a Igreja devido ao nosso pobre testemunho e aos escândalos que desfiguram a sua face”. Convidou-nos para uma humilde e insistente purificação, a começar por “ouvir o grito angustiante das vítimas, que deve sempre ser aceite e ouvido”.
Queremos particularmente ficar com a sua interpelação final, ao dizer-nos: “Este não é tempo para parar, para abandonar, para trazer o barco para a praia, para olhar para trás. Agora é tempo de graça para navegar forte, para dentro do mar da evangelização”.
É com o forte desejo de responder a estas interpelações que partimos para o novo ano pastoral.
21 de agosto de 2023
+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda