Homília de D. Manuel Felício na Peregrinação Diocesana a Fátima
A Diocese da Guarda foi em Peregrinação ao Santuário de Fátima, nos dias 20 e 21 de Agosto. Do programa destaca-se a celebração penitencial, na tarde do primeiro dia e a vigília, assim como a oração da manhã no segundo dia, como momentos específicos da Diocese da Guarda. O Terço e a procissão de velas e a celebração eucarística de encerramento foram comuns a outras peregrinações.
A peregrinação, que foi presidida por D. Manuel Felício, contou com a presença de 34 sacerdotes da Diocese da Guarda.
Na homilia da Missa de encerramento, o Bispo da Guarda referiu:
“Celebramos hoje a memória litúrgica de S. Pio X, o Papa que nos primeiros anos do século XX promoveu notável reforma da Igreja. O seu programa de reforma pretendeu motivar a participação nos sacramentos, incluindo o acesso das crianças à comunhão eucarística; fortaleceu o movimento bíblico; promoveu a reforma litúrgica. O lema condutor de toda a sua acção pastoral é-nos hoje recordado na oração de coleta com que iniciámos a celebração desta Eucaristia – instaurar todas as coisas em Cristo. E de facto é esta a vocação e a missão da Igreja e de todos os cristãos: procurar que a pessoa de Cristo e o seu Evangelho sejam a fonte inspiradora da vida das pessoas e da sociedade.
E é isso também o que há-de pretender todo o programa de evangelização que cada comunidade cristã está obrigada, por força da sua própria identidade, a criar e a pôr em prática.
Estamos em peregrinação ao Santuário de Fátima e queremos nesta peregrinação olhar para a pessoa de Maria Santíssima e descobrir ainda mais nela a Mãe e a Mestra de toda a Evangelização. Na Escuta da Palavra, como Maria, queremos partir daqui mais empenhados na tarefa da Evangelização.
Diante de Nossa Senhora queremos pedir-lhe que nos ajude a encontrar os caminhos para evangelizar os que já alguma vez foram evangelizados, mas agora se vão esquecendo do Evangelho que aprenderam; que nos ajude a ir ao encontro dos indiferentes para os motivar a repor as grandes questões da vida pessoal e em sociedade, as quais encontram na pessoa de Cristo e do seu Evangelho a luz de que precisam para serem esclarecidas; a todos nos ajude a contribuir para definir os caminhos que as nossas comunidades de fé hão-de saber percorrer para darem razão da sua esperança no meio do mundo.
O Papa Francisco na sua exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ insiste em que que não basta o primeiro encontro com a pessoa de Cristo e do seu Evangelho, isto é, o primeiro anúncio. Pelo contrário, lembra ele, ‘este primeiro anúncio deve desencadear também um caminho de formação e de amadurecimento’.
Este é o caminho de Fé que nunca termina, mas nos acompanha durante toda a vida.
Diante de Nossa Senhora, aqui no seu santuário, queremos, com o seu exemplo e a sua ajuda, estimular o nosso desejo de cumprir o apelo do Papa para as atitudes novas do verdadeiro evangelizador.
E uma delas é fazer com que a nossa vida pessoal e comunitária seja expressão, testemunho vivo do amor salvífico e misericordioso de Deus, antes mesmo de ser lembrança das obrigações morais e religiosas;
Outra é nunca cair na tentação de querer impor a verdade, mesmo quando sentimos que ela está do nosso lado; mas procurarmos sempre motivar a autêntica liberdade apoiada em convicções.
Acresce ainda que o verdadeiro evangelizador, como nos lembra o Papa, sabe cultivar sempre a proximidade, a abertura ao diálogo, a paciência e o acolhimento que nunca condena.
Senhora Nossa, Nossa Mãe, Senhora de Fátima, ajudai-nos a responder com entusiasmo a estes apelos do Papa Francisco.
Somos peregrinos e grupos de peregrinos que estamos no Santuário de Fátima com muitas e variadas preocupações.
A Diocese da Guarda, com esta sua peregrinação anual pretende colocar aos pés de Maria e confiar-lhe o seu programa pastoral para o novo ano 2014-15. Com este seu programa deseja, a partir do reencontro com a ‘Dei Verbum’ do Concílio Vaticano II, reforçar a centralidade da palavra de Deus na vida dos fiéis e das comunidades da Fé e motivar a sua acção evangelizadora.
Queremos descobrir, ao longo deste ano, que somos, enquanto baptizados, verdadeiros discípulos missionários. Outros peregrinos e grupos de peregrinos virão com outras preocupações, mas a todos Nossa Senhora nos quer confirmar na adesão às grandes preocupações da Igreja. Uma Igreja que nestes 2 anos – 2014-2015 – está predominantemente voltada para as famílias, com dois sínodos; as famílias, de facto, são o primeiro caminho da evangelização; uma Igreja que antes de ser código de leis morais e religiosas, quer esforçar-se por ser sinal do amor e da misericórdia de Deus no meio do mundo.
Estamos aqui em atitude humilde, mas muito confiante, diante de Nossa Senhora de Fátima para que ela seja verdadeiramente a nossa mãe e a nossa mestra, no caminho da Fé e na tarefa da Evangelização.
Banquete
da Eucaristia
Ninguém melhor do que Nossa Senhora nos pode fazer sentir e saborear a riqueza da festa que o Senhor prepara para aqueles que o amam. O banquete está preparado na mesa da Eucaristia, na abundância da graça que brota dos Sacramentos e do encontro vivo com a Pessoa de Cristo pelo acolhimento da Sua Palavra. Mas, tal como se diz na parábola evangélica, os convidados não respondem, porque andam distraídos e não fazem caso, porque muito ocupados com os seus negócios. De facto, esta continua a ser a nota dominante dos modelos de vida e mesmo da cultura e dos ambientes que caracterizam a sociedade actual dita secularizada. As pessoas são tentadas a gastar todo o seu tempo com as coisas e as preocupações materiais e esquecem as realidades mais importantes, como são o seu bem pessoal completo, a vida das suas famílias, incluindo o cuidado dos filhos, as relações gratuitas com as outras pessoas. Parece não haver tempo na sociedade actual para colocar as grandes questões sobre o sentido da vida pessoal e da própria sociedade.
E de facto essa é a grande tentação que atravessam todas as sociedades actuais sobretudo do mundo ocidental e que o Papa Francisco, muito à sua maneira define assim na exortação apostólica: ‘Na cultura dominante ocupa o primeiro lugar aquilo que é exterior, imediato, visível, rápido, superficial e provisório. O real cede lugar à aparência’.
É esta mesma tentação que o Senhor nos convida a combater todos os dias, seguindo o exemplo do Senhor da Festa preparada para os convidados que não compareceram. Mandou os seus servos pelas encruzilhadas a convidar todos os que encontrassem. E a sala encheu-se, mas o apelo de exigência não diminuiu. Tanto assim que quem foi ali não tinha a veste nupcial foi excluído. E a razão é que, como verdadeiro educador, Jesus nunca diminuiu a fasquia da exigência, mesmo quando as pessoas não respondiam ou ameaçavam ir-se embora. A tentação de diminuir a exigência nas nossas propostas de Fé e mesmo na formação daqueles que hão-de garantir a qualidade dos ministérios essenciais à vida da comunidade existe. Temos de seguir o caminho do Senhor que propõe sempre metas de excelências e motiva as pessoas para o caminho que a elas conduz. É isso mesmo o que nos diz hoje a leitura do profeta Ezequiel. O Senhor nosso Deus é Santo e quer manifestar a sua santidade no meio do mundo.
Convida-nos, escolhe-nos, prepara-nos para sermos no meio da sociedade actual a expressão visível da sua santidade, isto é, da beleza do seu amor e da sua misericórdia.
Para respondermos a este convite do Senhor sentimos que precisamos de muita conversão, mas também temos a garantia de sermos acompanhados e ajudados pela graça de Deus no nosso caminho de conversão.
Neste Santuário de Fátima queremos ouvir de novo o apelo de conversão que Nossa Senhora dirigiu à Igreja e ao mundo através dos 3 pastorinhos. E continua a ser verdade que a conversão é antes de mais obra do Espírito Santo na nossa vida pessoal; temos a garantia de que Ele é derramado sobre todos nós como dom generoso do próprio Deus. Só Ele pode transformar os nossos corações de pedra em corações de carne, verdadeiramente atravessados pelos sentimentos de Cristo e do seu Evangelho.
Senhora de Fátima, tomai conta das nossas vidas, fazei que os nossos corações se deixem transformar pelo Espírito Santo, para serem cada vez mais segundo o coração de Cristo e assim se cumprir em nós o desígnio de Deus quando através do profeta hoje nos diz: Vós sereis o meu Povo e eu serei o vosso Deus”.