Um Centro Consultivo Espiritual

De Hesíodo a Sócrates, de Maquiavel a Hobbes, de Ortega a Carlo Cippola, portanto dos cumes da Antiguidade aos da Modernidade e da Contemporaneidade

(para já nem sequer mencionar os medievos), o mundo circundante – a própria natureza humana – sempre foram motivo de funda apreensão. Os mais altos espíritos que a Humanidade já produziu identificaram e viveram (vivem) em denominador comum, digamos, quanto à instância de se fazer algo que modifique tão autenticamente calamitoso estado de coisas (para ilustrar o que dito fica para o hic et nunc basta folhar um jornal diário). Um dos maiores especialistas mundiais do dito hic et nunc – neste caso a nível global, portanto -, também um cimeiro autor de parénese e de prognose escrevia que a “Humanidade está a viver um dos períodos mais penosos da sua História”.
Assim, ignorância é alegação que ninguém pode invocar.
Numa obra de excepcional qualidade, Allegro ma non troppo, Oeiras, Celta Editora, 1993, Carlo Cipolla foi eloquente: “É consensualmente reconhecido que os assuntos humanos se encontram num estado deplorável, o que, aliás, não constitui novidade. Por mais que recuemos no tempo, verificamos que os assuntos humanos sempre estiveram num estado deplorável. O pesado fardo de desgraças e misérias que os seres humanos têm de suportar, quer como indivíduos, quer como membros da sociedade organizada, é, acima de tudo, o resultado da maneira extremamente improvável – e ousaria dizer estúpida – como a vida foi organizada desde o seu início” (pág. 47).
Não há que lamentar as dificuldades da Vida – abençoadas que nos estimulam, impelem. Há – isso sim – é que lamentar a atitude que perante elas se adopta – se for estúpida, claro.
Os mais altos espíritos sempre se puseram em marcha – a Igreja egitaniense, v. g., pôs-se em marcha contra a hedionda República, que, vimo-lo há uma semana, foi esmagada.
E puseram-se em marcha como? – Com a sua espiritualidade. Na antiga Roma os cristãos das catacumbas e outros iam a cantar para o martírio – e derrubaram a podridão em que se tornara o Império. O trabalho dos missionários medievais que venceram a barbárie no nosso Continente, os missionários portugueses que foram dilatando a fé por esse mundo além – para se sentirem grandiosos os lusos que conheçam a sua História (sem embargo dos também erros e crimes cometidos, note-se) –, acções de espiritualidade e de parénese estiveram sempre activas – e muitas vezes discretas e secretas.
O mal é repugnante, insidioso, totalitário…
“Curiosamente no dia seguinte ao sucesso da procissão da imagem da Nossa Senhora de Fátima pelas ruas de Lisboa, em 12 de Novembro de 2005, que já não se realizava fazia décadas”, a “ministra” da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, mandou retirar os crucifixos dos estabelecimentos de ensino e dos edifícios públicos. Sim, a tal “ministra” que foi condenada a vários anos de prisão com pena suspensa, Citação retirada de Brandão Ferreira em “O Padre Feytor Pinto…”, O Diabo (12-V-2015). A dita “ministra” é – tão-só – uma escancarada concreção da mentalidade que tomou as rédeas do poder em Portugal – e que o colocou no estado em que se encontra.  
Nenhum homem de bem está dispensado de dar a sua colaboração para vencer o pecado (etimologicamente “falta de método”). Tão-pouco de ignorar que “escolho sempre ver o lado negro das coisas como a mera sombra da luz”. Mais. “Haverá sempre obstáculos. O modo como lidamos com eles é a chave dos nossos pessoais bem-estar e sucesso” (citações de uma carta que um amigo me enviou).
Ocioso invocar o toque a rebate.
A Guarda pode ufanar-se de ter pessoas de singular valor espiritual – a Diocese bem o sabe. Emocionam-me, reverencio-as.
Assim, proponho que, com esse admirável escol que do Divino dá testemunho, a Diocese avance para a constituição de um Conselho Consultivo Espiritual. Nele caberão todos os que desejam um alcandor para a nossa comunidade, do camponês ao erudito e sábio, sem qualquer distinção – a menos, bem entendido, que a sua identidade nada tenha a ver com tão sublime desiderato.
Conheci pessoalmente o então Padre Moiteiro em 1993 e logo passados uns anos lhe fiz esta proposta. De tal modo a acolheu que me declarou ter já, na sua mente, o local em que iria, fisicamente, situá-lo. Extremamente ocupado e, depois, abalado da nossa cidade, era imperativo que trouxesse para aqui esta momentosa questão.
Por mim deixo-lhe já um lema: “Falar com gentileza cria confiança. Pensar com gentileza gera ideias profundas. Dar com gentileza é um acto de amor”. Continuo a citar a carta que o meu amigo me enviou.
Faça-me o obséquio, Senhor Dom Manuel Felício: toca a pôr a ideia em marcha. Modestamente, por mim, tenho já algumas ideias e nomes de personalidades a avançar.
E finalizo com Píndaro; “Efémeros! Que somos nós? Que não somos? Sombra de um sonho é o homem. Mas, quando vier um raio de luz divina, então um fúlgido resplendor e uma doce vida sobreviverá aos homens.”
Guarda- 17 – V – 15

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