SÓ SUBIU AO CÉU AQUELE QUE DESCEU DO CÉU
O próprio dia de Páscoa é dia de ‘aberturas’: Cristo ressuscitou e o seu túmulo está aberto e vazio; depois, aparece aos discípulos e abre-lhes a inteligência (“abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras”), o olhar (“abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O”) e o coração (“não nos ardia o coração quando nos falava no caminho?”).
Esta abertura do olhar, da inteligência e do coração implicam uma conversão, uma transformação total. Abrir os olhos à luz da fé, a fim de reconhecer a presença de Cristo ressuscitado; abrir a inteligência ao dom do entendimento, para compreender a Verdade das Escrituras (Palavra de Deus); e abrir o coração ao dom do Espírito Santo.
Falar de abertura é falar de disponibilidade, de predisposição para acolher. A este propósito, parece-me essencial compreender bem a ordem de Jesus, dada no evangelho: “permanecei na cidade, até que sejais revestidos com a força do alto”. A que se refere esta “força do alto” esclarece-se na primeira leitura, dos Actos dos Apóstolos: “recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas”.
A transformação da pessoa inteira (olhar, inteligência e coração) e o acolhimento do Espírito Santo são indispensáveis para a eficácia da missão cristã. Sem isso, um cristão pode até fazer muitas coisas na Igreja, ser muito activo, mas será em tudo o único protagonista, com a consequência certa de fracasso e cansaço inútil. Par que a missão seja útil mas não caia num activismo estéril, é necessário, em primeiro lugar, parar, invocar, rezar: “permanecei na cidade até que… e estavam continuamente no templo”.
Num diálogo com o fariseu Nicodemos, Jesus declarou: “Ninguém subiu ao Céu a não ser Aquele que desceu do Céu”. Nenhum ser humano tem poder para vencer a morte, para se salvar, para alcançar o Céu… A não ser que Alguém do Céu desça à terra… e nos salve! Eis, então, a Boa Nova: Deus fez-se homem para que o homem se faça Deus! Hoje celebramos a Ascenção, a subida ao Céu d’Aquele que desceu à terra, para elevar e colocar no Céu a natureza humana redimida.
“Sereis minhas testemunhas”, pede-nos Cristo. Para podermos subir com Ele, é preciso acolher a sua descida. Para podermos ser testemunhas do seu triunfo é preciso abrir-nos à acção transformadora da graça, invocar e acolher o Espírito Santo, a “força do alto”.