O País em cuidados continuados

Fui um de entre milhões que festejou a liberdade, estive no seu parto e por via disso, tornei-me um fã das canções de intervenção,

nomeadamente das que tinham a voz de Zeca Afonso. Cantei muitas vezes a “Grândola vila morena”, não só por ser a senha da revolução que deu à luz a referida liberdade, mas porque transmitia a maior crença democrática: “O povo é quem mais ordena”. Hoje estou completamente desiludido. “Em cada rosto igualdade” nunca tive ocasião de presenciar, passados que são quarenta e um anos desta nossa democracia, que de povo nada tem.
Num país onde a taxa de abstenção equivale a uma maioria absoluta em caso de todos votarem, leva-nos a pensar que o partido mais votado não chega a ter vinte por cento do eleitorado do país Lusitano. Para além do mais, ainda tem a agravante de que o afastamento das urnas tem um crescendo constante, leva-nos a pensar que daqui por uns tempos, só votam os que têm um bom “poleiro” bem como a sua corte. Muito embora se apele nas campanhas ao voto, os protagonistas mais não querem do que se o voto não for para eles, que caia na abstenção, pois se não beneficia, já é bom não prejudicar.
Aqui chegados leva-me a concluir que temos sido e continuaremos a ser governados por pequenas minorias que desde a sua juventude se habituaram a ver na sua militância partidária um modo de vida, o que os leva a quezílias internas nos próprios partidos para alcançar a liderança. Quem tem uma boa carreira profissional afasta-se da política, pois não está para aturar o palavreado de baixa índole, daqueles que até à última gota, lutam pelo protagonismo que almejam ter na vida. Ora, essas minorias que lideram o nosso povo descrente e aborrecido com o Poder que alega sempre dependências e compromissos externos, através de artimanhas e de um vocabulário ambíguo durante as campanhas eleitorais, ainda vão levando uns quantos às urnas, fora disso e uma vez empoleirados, são os próprios a afirmar, frases desconexas com a democracia, tais como “As eleições que se lixem”.
O momento em que vivemos envergonha o nosso povo e em consequência disso perde-se o respeito pela cidadania, porque se conclui que todos os timoneiros leem pela mesma cartilha, que para além de não respeitarem o próximo, vão limando o erário público.
Não sei como se vai descalçar esta bota, muito embora saiba que quem tem de o fazer, defendeu a tese do seu doutoramento político com o título:- “Eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”. Assim sendo, apenas resta esperar para saber se esse crânio, umas quantas vezes já desfeiteado pelo Tribunal Constitucional, desta vez acerta.
Se não tiver arte e engenho para esse efeito, sujeita-se a ser o pior de todos os que o antecederam e ter uma ação de despejo com o país ingovernável. Isto se vier a acontecer é fruto da fraca liderança de quem conduz o barco, pois em pleno mar alto com toda a tripulação dividida e a gladiar-se, muito maior é o perigo de o barco ir a pique.
Muito eu gostava de ver que este país, embora dividido em opiniões, tivesse nos seus órgãos de Poder gente séria, que afastasse a miséria e visse o sucesso no progresso, onde todos tivessem uma filosofia de vida semelhante à de um rancho de ceifeiros, onde cada qual tinha a sua missão a cumprir, fosse ela mais nobre ou mais modesta. Agora o que vejo é bem diferente, todos pensam do mesmo modo que um moleiro, saber muito bem levar a água ao seu moinho e mais importante do que isso saber fazer bem a maquia antes do serviço feito.
Muito mais teria para dizer, mas entendo que o alvo para onde hoje estou a disparar, não merece mais tiros. Prefiro ficar por aqui com a esperança de que eu me engane.

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