“Não se dê o caso que vos encontre a dormir.”

Estamos a iniciar o segundo ano do ciclo litúrgico, ao longo do qual iremos acompanhar a vida e ensinamentos de Jesus a partir da perspectiva do evangelista São Marcos.

Começamo-lo com o período do Advento, com intenção de preparar a festa do nascimento de Jesus em Belém. Estamos a aproximar-nos da festa de Natal que, infelizmente, está um pouco deturpada pelo espírito consumista e comercial. Se reconhecemos que Jesus está já presente no meio de nós, então o Advento tem de ser muito mais que um simples tempo de preparação da festa natalícia. Deveria ser um período para orientarmos a nossa vida cristã, questionarmos a nossa configuração com Cristo e nos deixarmos encher da Sua presença. Mas como viver o Advento no meio desta sociedade tão consumista? O evangelho fala-nos da vigilância. Que tem isso a ver com o Advento? E porquê esta insistência?

Começamos o ano retomando uma das mensagens transversais dos últimos domingos do ano anterior. Novamente Jesus nos pede que nos ‘acautelemos e vigiemos, porque não sabemos quando chegará o momento’ (Mc 13, 33). Nunca será demais lembrar que esta linguagem de Jesus não quer incutir medo. Ele não nos ‘esconde a hora’ para vivermos aterrorizados. Não nos indica nenhuma hora, porque todas as horas são importantes. Não nos quer obcecados com o fim, mas com uma vida cristã diária activa. Com o repetido convite a vigiar, Jesus não pretende alimentar uma vigilância temerosa que provoca ansiedade, mas uma confiança que encha de alegria. É como uma mãe que aguarda o nascimento do seu filho. Não sabe bem a que horas virá, ‘se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha’ (v. 35), mas tem a certeza que vem.

A nossa vigilância deveria ser assim, como a desta mãe que espera, confia e vai alimentando a alegria pelo que vem. Espera-o o tempo que for preciso. Sem pressas nem medos. E ainda no útero, já lhe fala na intimidade. É o que poderíamos chamar de vigilância orante, pois vigiar é, no fundo, alimentar-se na intimidade com Deus através da oração, enquanto se espera que Ele venha. Assim deveria ser a nossa vida espiritual. Este seria o melhor segredo para nos mantermos despertos. Não se trata do sono físico! Pode até acontecer que nos deixemos dormir enquanto rezamos! Não é esse sono que devemos evitar. É, antes, aquela sonolência de quem virou costas à espiritualidade. No Advento deste ano estejamos vigilantes, para que ‘não se dê o caso que, vindo o Senhor inesperadamente, nos encontre a dormir’ (Mc 13, 36).

Senhor Jesus, ajuda-me a fazer da minha vida uma oração constante, que alimente a esperança, e me permita estar desperto e vigilante. Quero entrar na Tua intimidade e saborear o Teu amor. Quero falar contigo como uma mãe fala ao filho que traz no seu seio. Toca o meu coração e prepara-o para te acolher neste Natal.
Amén

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