Dar continuidade a uma tradição familiar ancestral foi o grande propósito que levou Lúcia e Américo Ferraz a avançar com a construção da adega “Lúcia & Américo Ferraz – Wine, Love and Family”, localizada na aldeia de Vale Flor, concelho de Mêda.
A marca Souvall, é uma homenagem à terra que acolheu e à paixão que une, os dois médicos dentistas, residentes em Aveiro, e que encontraram na aldeia natal de Américo, em Vale Flor, a inspiração para dar continuidade a uma tradição familiar, alicerçada em Álvaro Ferraz.
O sonho de Álvaro Ferraz, pai de Américo, deu origem a uma tradição que cresceu com a terra e já se projectou para além das fronteiras do concelho e da região. Hoje, com uma adega moderna e 20 hectares de vinha, a família mantém o legado vivo, produzindo vinhos, azeite, e amêndoas, sempre com respeito pela tradição e pelo futuro.
Numa simbiose quase natural, o equipamento praticamente se confunde com o casario de uma aldeia que aos poucos foi perdendo importância e, como tantas outras, luta contra o despovoamento.
Na adega, onde é produzida a marca Souvall, foram gastos 600 mil euros. “Uma brutalidade”, considera Lúcia Ferraz, principal mentora da ideia que “começou a brincar” e que rapidamente ganhou forma, apesar das dificuldades que tiveram de ultrapassar.
“Edificar a adega, inox, mais maquinaria, depois comprar mais isto, mais aquilo, as pipas, os ordenados dos trabalhadores, a criação de postos de trabalho, o enólogo, tudo isso fez subir o valor inicialmente previsto”, explicou Lúcia Ferraz ao Jornal A GUARDA. E continuou: “Pedimos dinheiro emprestado e montámos a adega. Levantaram-nos montes de problemas aqui na aldeia, mas nós enquadrámo-nos na aldeia, esforçámo-nos com a arquitectura exterior para não chocar, não estragar a imagem e começámos a trabalhar com amor”.
Sempre a falar com o coração lembrou a criação de uma marca própria a partir dos nomes da família e das expressões usadas na aldeia.
“Por exemplo Souvall, de onde vem o nome Souvall” perguntou, para logo explicar que a aldeia se chama Vale Flor. E continuou: “A minha sogra dizia: aquela malta do Vale, eles devem estar no Vale, eles foram para o Vale, eles vêm do Vale, isto é do Vale”. Foi a partir destas expressões que nasceu o vinho é Souvall, ou seja “eu sou do vale”.
Em relação ao vinho ‘Alvinho’, Lúcia Ferraz explicou: “Utilizámos A de Américo de e o L de Lúcia e vinho e o diminutivo de Álvaro e ficou Alvinho. Não tem nada a ver com o Alvarinho, com a casta, tem mesmo o nosso nome e é a nossa história”.
“Isto que temos aqui é um acto de amor, um acto de continuidade e da minha experiência da perda”, adiantou Lúcia Ferraz, lembrando a sua história de vida com a morte dos pais quando tinha pouco mais de trinta anos. E explicou: “Herdei do meu pai uma parte em Amarante e comecei a recuperar as casinhas que me deixou e que tecnicamente não valem nada, não prestam para nada, não têm valor nenhum, mas para mim têm muito, têm o sentido da continuidade”.
Foi a partir desta experiência que decidiu desafiar o marido, Américo, a lançar-se na aventura de recuperar o património dos pais, de maneira a garantir a continuidade da tradição familiar ligada ao vinho.
De início, não foi uma tarefa fácil devido à resistência do sogro, em alterar hábitos e costumes na forma de cuidar da vinha e do vinho. Aos poucos a situação foi mudando e as dúvidas iniciais deram lugar a “um brilhozinho nos olhos” de Álvaro Ferraz que, agora, sente orgulho na adega “Lúcia & Américo Ferraz – Wine, Love and Family”.
“Quando a gente vê um brilhozinho nos olhos a nossa missão penso que está cumprida”, arrematou Lúcia Ferraz que ainda sonha recuperar a casa da família para enoturismo, de maneira a “tirar Vale Flor do esquecimento e a pôr Vale Flor no mapa”.