Agricultura
Filipe Alves, 31 anos, licenciado em Engenharia Civil, natural da Guarda, vai plantar um cerejal, num terreno com 4,4 hectares, na zona de Santana de Azinha, concelho da Guarda, com variedades com floração e maturação mais tardias. O projecto agrícola foi um dos três contemplados a nível nacional, com uma bolsa de instalação de 20 mil euros, atribuída no âmbito da segunda edição da Academia do Centro de Frutologia Compal. “O objectivo passa por produzir, em Santana de Azinha, variedades com floração e maturação mais tardias de modo a evitar desagradáveis surpresas climáticas de início de Primavera e ter produto nacional no mercado quando ele já se extinguiu nas origens de excelência da cereja em Portugal”, adiantou Filipe Alves ao Jornal A Guarda.
O jovem empreendedor explicou que a aposta na cereja “vem um pouco no sentido de trabalhar a fruta e a árvore que conhecia melhor à partida (“Escolhe um trabalho que gostes e não terás que trabalhar um único dia da tua vida”), aquela que se adapta melhor às fracas condições climáticas e altitude da região (embora se cultive desde a Turquia à Noruega e a altitudes que hoje chegam aos 1.450m) e também aquela que, devidamente trabalhada, permite uma maior valorização na pequena área que tinha disponível”.
O projecto “está ainda nos primórdios, mas deverei ter árvores plantadas até final do ano”, adiantou. “Em termos produtivos só deverá começar a ter algum significado em 2017/2018”, acrescentou. A produção, que no final do quarto ano poderá atingir as 44 toneladas, “será, em princípio, para o mercado nacional, mas essa parte será acautelada por quem tem mais experiência na comercialização do produto”.
O projecto de Filipe Alves não terá qualquer apoio comunitário. “A zona Raiana, segundo algum entendido dos serviços agrícolas da Guarda, só serve para castanheiro ou para pecuária. A primeira cultura não é rentável a curto prazo pelo que não fará sentido haver apoios comunitários. A pecuária requer um pouco mais de área que a que tinha disponível. Talvez por isso existam tão poucos projectos nesta zona ao contrário de outras zonas do país em que atrás de cada calhau há uma tabuleta do PRODER – Programa de Desenvolvimento Rural. Especialmente de mirtilos, como já vi, plantados no cimo de penedos”, disse.
Filipe Alves, nascido e criado na Guarda, disse ao Jornal A Guarda que tem vontade “de aproveitar as terras da família, criar emprego e riqueza e ajudar a manter um pouco mais a Guarda, a ver se, finalmente, as coisas mudam já que uma cidade que tem, estrategicamente, tudo para ser feliz, bem o pode ser”.
Em relação ao prémio atribuído na 2.ª Edição da Academia do Centro de Frutologia Compal, referiu que o mesmo significa, além do culminar “de uma formação de extrema importância para a inserção no sector da fruta e da agricultura em geral, a possibilidade de avançar com o projecto sem recurso a crédito, ainda que familiar, bem como algum alívio na disponibilização inicial de recursos próprios”. “Em termos absolutos, e pretendendo o projecto ser económico e viável, assegura quase o primeiro ano de instalação”, disse.
Na edição deste ano do prémio participaram 12 empreendedores, que tiveram oportunidade de desenvolver os seus conhecimentos e partilhar experiências com produtores, técnicos e empresários agrícolas, assim como estabelecer parcerias, lançando as bases para a continuidade de uma relação que lhes permite enfrentar os desafios e constrangimentos do sector. Para além de Filipe Alves, o prémio também contemplou Ricardo Tojal, do Fundão, e Aurora Santos, de Beja.
O Centro de Frutologia Compal é um projecto único em Portugal, com o objectivo de valorizar e promover a fruta portuguesa estimulando a inovação nas vertentes produção, transformação e consumo. Reúne entidades do sector agrícola e frutícola, entidades públicas e privadas, académicas, empresariais e associativas, em torno do propósito comum de valorizar e promover a fruta nacional.