FAZEM FALTA PROFETAS

A Palavra de Deus leva-nos hoje a reflectir sobre uma importante faceta do mistério de Cristo:

Ele é um profeta. É certo que é muito mais do que isso, mas ao aplicar a Si o dito “nenhum profeta é bem recebido na sua terra”, mostra que Ele próprio se considera tal.
O que é um profeta? Antes de mais uma pessoa que fala em nome de Deus, alguém que pode afirmar com certeza e propriedade: eis o que diz o Senhor! Saber o que Deus tem a dizer aos homens não é uma questão de imaginação, mas de trato pessoal e íntimo com Ele. De abertura ao Espírito Santo: “O Espírito do Senhor está sobre Mim”. Por isso, as palavras e as acções de um profeta têm um peso especial, intui-se nelas um carisma (isto é, um dom de Deus) e uma força arrebatadora. Jeremias, na primeira leitura, é um bom exemplo. E Jesus o exemplo perfeito do que significa ser profeta.
Os habitantes de Nazaré pressentem que em Jesus há ‘qualquer coisa’: “admiravam-se das palavras cheias de graça que saíam da sua boca”. Mas não são capazes de ir além desta intuição inicial, de dar um salto de fé, porque esbarram no conhecimento que têm da sua família: “Não é este o filho de José?” E recusando-se Jesus a fazer na sua terra milagres que comprovem que é mais do que o filho de José, passam da admiração à fúria, ao ponto de O quererem matar.
Eis um profeta. A palavra é a sua força e ao mesmo tempo a sua fraqueza. É a sua fraqueza porque está sujeita ao crédito e à adesão que lhe derem. Mas quando a palavra procede de Deus e assenta na coerência, faz temer os poderosos. Assim Deus envia o profeta Jeremias, “como uma coluna de ferro e uma muralha de bronze”, disposto a enfrentar o povo, os seus sacerdotes, chefes e reis. “Não temas diante deles”, diz-lhe Deus. Porque a Verdade é mais forte do que a morte.
Como Jeremias, Jesus foi mal recebido, no início pelos seus conterrâneos, mais tarde pelo povo e sobretudo pelos seus chefes. Porque a Verdade que sai da sua boca incomoda, desafia, denuncia. A Palavra de Jesus põe a nu a falsidade, desmascara a hipocrisia, mostra a diferença entre a verdade e a mentira, entre o bem e o mal, a luz e as trevas. Por isso o profeta é temido, perseguido, ameaçado. Mas a Páscoa está aí a gritar que a Verdade é mais forte do que morte.
Faz-nos bem contemplar Jesus como profeta. Jesus que desde o início da sua missão, na própria terra onde foi criado, enfrentou ameaças de morte. Mas nunca se desviou do seu caminho.
Fazem falta profetas na sociedade, na política, no mundo do trabalho. Discípulos de Jesus dispostos a pagar o preço da fidelidade e da coerência com o Evangelho. Para quem a fé na Ressurreição faz toda a diferença.
Fazem falta profetas na Igreja. Dos que sabem que sem amor, como ensina Paulo, não somos nada, e que nada é o dinheiro, o carro ou título ou os prestígios mundanos. Dos que amam a verdade. E acima de tudo estão dispostos a servir e a dar vida.

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