EU VOS ENVIO COMO CORDEIROS

Na sua versão do Evangelho,

São Lucas descreve o envio para a missão quer dos doze apóstolos quer de setenta e dois discípulos. Desse modo se sublinha que a evangelização é obra confiada não só aos apóstolos mas a todos, ou, como se diria hoje, dar testemunho de Jesus e anunciar o Evangelho não é uma coisa só para os padres, mas é missão confiada por Jesus a todos os cristãos: todo o baptizado é missionário.
O próprio número dos discípulos que são chamados e enviados por Jesus, setenta e dois, mostra não só que a missão é de todos os cristãos, mas igualmente a universalidade dos destinatários. De facto, os judeus acreditavam que esse era o número das nações existentes no mundo. A boa nova destina-se a todos porque Deus quer salvar a todos os seus filhos. Por isso é que “a messe é grande e os trabalhadores são poucos”.
A missão do cristão, para ser autêntica e poder dar fruto, começa e acaba na oração. A primeira coisa a fazer é rezar: “pedi ao dono da seara”; e, no fim, terminar com a oração, isto é, contar a Jesus o que se fez, partilhar com Ele o que se sentiu, as dificuldades, as desilusões ou as alegrias: “os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo”… Quando um cristão se dedica a uma qualquer missão, no campo da catequese, da liturgia ou da caridade, mas põe de parte a vida de oração, cedo ou tarde cede às tentações, julga-se o protagonista do que faz ( esquece que é sempre Cristo que actua e só o Espírito Santo fecunda a missão), perde a paz interior se as coisas não correm segundo os seus planos, ou cede ao pecado da soberba se algo corre bem.
Nas atitudes que Jesus pede a todos os cristãos, tocam-me particularmente o desprendimento e a mansidão.
A exigência de não levar “bolsa nem alforge nem sandálias” e a proibição de andar de casa em casa (à procura das mais ricas ou generosas…), são o alerta sempre necessário para dar de graça o que de graça recebemos, para não fazermos nada na Igreja com o objectivo de alcançar recompensa de qualquer espécie, o aviso a todos, mas sobretudo aos padres, como o Papa Francisco tanto denuncia, a não se deixar vencer pela ganância, a não prestar os seus serviços apenas àqueles que contribuem para o sustento do clero…
Como sempre, Jesus não esconde aos discípulos as dificuldades e os perigos que poderão encontrar. “Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. O perigo dos cristãos serem mal recebidos, incompreendidos e mal tratados existe sempre. Como existirá sempre a tentação de, nessas situações, respondermos na mesma moeda. A tentação de deixarmos de ser cordeiros e de nos comportarmos como lobos. Todos sofremos e nos envergonhamos dos momentos da história em que a Igreja deixou de ser um rebanho e se transformou numa alcateia. E isto pode acontecer comigo, com cada cristão. Recordarei sempre com gratidão quem um dia, diante de uma injustiça sofrida, me alertou com palavras de um santo: não queiras fazer igual a quem te fez mal. Serás como um lobo. Mas Deus é Pastor, e o pastor protege e só se ocupa das ovelhas, não dos lobos. Conserva-te cordeiro, e Deus ocupar-se-á de ti. E, de facto, isto basta. Isto dá paz. E alegria maior: “porque os vossos nomes estão escritos nos Céus”.

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