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Entrevista: Fábio Pinto – Presidente da direção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Egitanienses

“A comemoração dos 150 anos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Egitanienses deve representar uma oportunidade para homenagear todos os que serviram esta instituição”.

Fábio Pinto, Presidente da direção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Egitanienses, é natural da Guarda.

É licenciado em Fisioterapia e Pós-Graduado em Economia Social e Solidária pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Fisioterapeuta desde 2012, é Gestor de Projetos do Plano Nacional de Acção para o Envelhecimento Activo e Saudável. Foi Assessor Parlamentar na Assembleia da República e integrou Gabinetes de membros do Governo nos XXII e XXIII Governos Constitucionais da República Portuguesa.

Nos tempos livres gosta de Turismo, História, Fotografia, Natureza e Leitura.

A GUARDA: A Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Egitanienses comemorou 148 anos, no início de Agosto. São muitos anos ao serviço da Guarda e da região?

Fábio Pinto: Efectivamente são muitos anos ao serviço da comunidade, da Guarda, da Região e do País. São 148 anos de vida, de ambição, de dedicação, de solidariedade, humanismo e de protecção.

O peso desta idade é gigante. Mas gigante é também o peso do legado, exemplo e espírito de sacrifício protagonizado por todas as suas Bombeiras e Bombeiros.

E é, acima de tudo, impensável não assinalar esta data com o reconhecimento, louvor e gratidão que devemos a todos quantos se dedicaram, ao longo de 148 anos, a esta casa e a esta causa.

Por essa razão, a principal mensagem, nesta data, da Direcção e, estou certo, de todos os órgãos sociais da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Egitanienses (AHBVE), foi dirigida a todos os Bombeiros desta casa. A quem, diariamente, luta, resiste, dá tanto de si, o que tem e mesmo o que não tem, para garantir a proteção do próximo e para nos assegurar a certeza de que, perante todas as adversidades, ninguém fica para trás.

Os Bombeiros da Guarda, com e sem farda, são os melhores que poderíamos ambicionar ter ao serviço da causa humanitária, da nossa casa, da nossa comunidade e, particularmente, ao serviço do nosso futuro.

É por isso, mais do que justo, assinalar que 148 anos são muitos anos ao serviço do próximo, com a maior certeza de que o fazemos com orgulho, reconhecimento, gratidão e esperança de que sejam um mero capítulo num longo futuro da nossa Associação.

A GUARDA: Quais os momentos mais marcantes das comemorações deste ano?

Fábio Pinto: As comemorações dos 148 anos desde a fundação da AHBVE foram assumidas com a maior dignidade e pompa que nos foram possíveis na atualidade.

Naturalmente, a Direcção não quis deixar de assinalar esta efeméride mediante a criação de um programa que assegurasse o envolvimento de todos os Bombeiros e trabalhadores.

Contudo, porque as comemorações dos aniversários não são apenas uma celebração para a instituição, a programação foi também voltada para a comunidade.

É por isso, de inteira justiça, que reconhecidamente agradecemos o contributo da comunidade, bem como de todas as entidades que, amavelmente, nos têm apoiado, nomeadamente no que se refere à concretização deste programa de comemorações.

No que se refere ao programa em questão, procurámos desenhar iniciativas diversificadas, com um enfoque particular na homenagem a todos os Bombeiros que já partiram, após um marcado serviço público na nossa casa, rumando ao talhão dos Bombeiros da Guarda, situado no cemitério, para prestar esse reconhecimento simbólico, e precedendo esse momento com uma Missa na Sé da Guarda.

Digno de realce foi também a realização do simulacro de um acidente com um veículo pesado de passageiros, fruto de um trabalho conjunto com a Protecção Civil Municipal, num espaço público central da cidade, e que envolveu um amplo conjunto de meios e a assistência de muitas dezenas de cidadãos.

Não podemos deixar de destacar que, neste aniversário, foram entregues duas novas viaturas de transporte a doentes não urgentes ao nosso Corpo de Bombeiros, fruto de um investimento exclusivo da Associação. Este momento foi assinalado com a presença de Sua Excelência Reverendíssima, o Senhor Bispo da Guarda, que amavelmente se deslocou ao quartel para proceder à bênção às viaturas e contribuir, dessa forma, para dignificar a iniciativa que pretendeu concretizar a melhoria de um importante apoio à comunidade através da prestação, com qualidade, de um serviço tão fundamental desta nossa Associação.

Por outro lado, não podíamos deixar de assinalar a realização da habitual sessão solene comemorativa, que contou com a participação de mais de quatro dezenas de entidades e representações institucionais, a somar às várias dezenas de cidadãos que não faltaram ao momento de prestar homenagem a todos os que contribuíram para o passado da AHBVE e, cuja presença e participação, muito agradecemos.

Perante a importância da ocasião, a Direcção aproveitou a oportunidade para anunciar o novo Presidente da Comissão de Honra das Comemorações do 150.º Aniversário da AHBVE, tendo sido indigitado para esta nobre missão o nosso Bombeiro Voluntário número 35, do Quadro de Honra, Doutor Álvaro José da Trindade Pereira Guerreiro.

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Trata-se de alguém que dispensa apresentações, e a quem esta casa muito deve e agradece, marcadamente reconhecido enquanto construtor de pontes e diálogos, em suma, uma figura maior da Guarda, mas sempre maior na nossa Associação.

Cumpre ainda realçar dois momentos, nomeadamente no que se refere ao desfile motorizado pelas ruas da cidade, iniciativa que levou várias dezenas de viaturas a percorrer as principais artérias urbanas, para agradecer todo o apoio concedido pela comunidade aos Bombeiros da Guarda e, por último, o almoço de aniversário, que juntou cerca de duas centenas de participantes, particularmente os Bombeiros e suas famílias, num salutar momento de convívio e de confraternização.

A GUARDA: É preciso começar a preparar os 150 anos da instituição. Como será assinalada essa data?

Fábio Pinto: A caminho dos 150 anos, alguns dirão que ainda faltam dois anos para este enorme marco histórico da nossa casa. Contudo, não queremos que o tempo nos vença pela impreparação.

Desde logo, queremos avançar a passos largos para esta efeméride tão redonda com uma Associação ainda mais presente, mais preparada, mais habilitada e mais forte.

Não é novidade que os órgãos sociais desta Associação pretendem assegurar uma comemoração com qualidade, envolvendo toda a comunidade, pretendendo, para tal, apresentar um programa de comemorações já no próximo aniversário, em Agosto de 2025. Este objetivo propõe envolver uma Comissão Executiva a constituir e que englobará todos os que fazem parte do presente da Associação, assim como algumas entidades fundamentais para a comunidade, e uma Comissão de Honra, composta por personalidades que prestigiem, valorizem e assegurem a importância destas comemorações.

A data não se ficará apenas, como se indica, pela data.

Pretendemos evocar, ao longo de um ano, a memória, o legado e a importância dos Bombeiros da Guarda, mediante múltiplas iniciativas abertas à comunidade, nas mais variadas áreas, designadamente, desportivas, culturais e sociais, dentro e fora do quartel, e que assumam, de forma memorável e com toda a dignidade, o objetivo de cumprir com a responsabilidade de assinalar os 150 anos da fundação da sétima Associação com Bombeiros Voluntários mais antiga do País.

Em suma, a comemoração dos 150 anos da AHBVE deve representar uma oportunidade para homenagear todos os que serviram esta instituição, não se circunscrevendo àqueles e àquelas que estiveram diretamente ligados à Associação e ao seu corpo de Bombeiros, mas também assegurar um reconhecimento às instituições e entidades cuja colaboração foi fundamental para o nosso crescimento. De igual forma, é vital poder reconhecer que foi da população da Guarda que surgiram os homens e mulheres que fundaram e deram continuidade à AHBVE, assim como as famílias de todos aqueles que, com ou sem farda, se dedicaram a servir esta prestigiada instituição e, em maior destaque, manifestar gratidão pelos Bombeiros que, de forma abnegada, se dedicaram a esta nobre causa no Corpo de Bombeiros da Guarda.

A GUARDA: Fábio Pinto assumiu a presidência da direcção na sequência da demissão de Luís Costa Gomes. O que o levou a aceitar este cargo?               

Fábio Pinto: Estou Presidente da Direção da AHBVE desde o final do passado mês de Maio, após ter assumido as funções de Vice-Presidente, no decurso das eleições para os órgãos sociais que aconteceram no pretérito mês de dezembro de 2023.

Considerando que a demissão a pedido do próprio se encontrava prevista e devidamente balizada à luz dos estatutos da Associação, através dos quais foi colmatada, não quis contribuir com outra decisão que não fosse aquela que melhor assegurasse o cumprimento do projeto a que os órgãos sociais se propuseram, assumindo, humildemente, a nova responsabilidade com um sentimento de honra e privilégio, ao lado de uma equipa absolutamente motivada, coesa e plenamente capacitada, que levará a cabo a missão com toda a dedicação que se disponibilizou a prestar a esta causa.

A GUARDA: Quais os grandes objectivos que tem definidos para os Bombeiros da Guarda?

Fábio Pinto: Cumpre-me assinalar, em primeiro plano, que todos os objetivos e a missão assumida são fruto de um esforço coletivo. São uma responsabilidade coletiva de todos os Bombeiros desta corporação, de todos os seus trabalhadores, órgãos sociais e, particularmente, de toda a comunidade. Nunca serão apenas meus.

O conjunto de objetivos traçados resultam e resultarão de um trabalho permanente em equipa visando um modelo de gestão organizacional participada, como forma de melhorar o funcionamento da Associação, otimizando recursos e aumentando a eficácia, com o objetivo de prestar mais e melhores serviços à comunidade.

Contamos com todos os Bombeiros para fomentar novas e maiores sinergias, num exercício conjunto de fortalecimento da proximidade entre a Direção e o Corpo de Bombeiros, que procure valorizar todos os recursos humanos ao serviço da Associação. Complementarmente, estamos comprometidos em assegurar maiores recursos económicos e em melhorar a situação financeira da Associação, garantindo liquidez, viabilidade e sustentabilidade financeira por meio da diversificação das possíveis fontes de financiamento ao nosso dispor.

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No que se refere aos equipamentos, à frota de veículos e às instalações, o nosso foco segue um caminho que visa garantir um processo de melhorias contínuas, procurando avaliar, reparar, adquirir, modernizar e aprimorar todos os meios ao dispor da casa.

Por outro lado, consideramos igualmente fundamental promover atividades que aproximem a comunidade ao quartel, sensibilizando os cidadãos para a missão desempenhada pelos Bombeiros, e fortalecendo os canais de comunicação entre a Associação, autarquias, associativismo e o tecido económico local, tão vital na sustentação da nossa missão.

Por fim, e como já referi, iremos desenhar e concretizar as comemorações do 150.º aniversário da Associação, envolvendo toda a comunidade e promovendo atividades que honrem a história dos Bombeiros na Guarda.

Sem todos, será sempre mais difícil compreender que todos são essenciais na hora de contribuir, defender, participar e fazer parte da missão desta Associação Humanitária dos nossos valorosos Bombeiros.

Mantendo essa premissa sempre presente, a Direção, os demais órgãos sociais e o recém-empossado Comandante, Marco Lucas, assim como o restante novo Comando, Bombeiros e trabalhadores, têm procurado avançar na concretização dos objetivos deste mandato, garantindo a estabilidade necessária.

A GUARDA: Quais os principais desafios com que debate actualmente uma corporação de bombeiros como a da Guarda?

Fábio Pinto: Invariavelmente, são múltiplos. Mas, de forma sintética, destacamos os desafios financeiros e ao nível dos recursos humanos.

Apesar de comprometidos com um modelo focado no controlo rigoroso das despesas, dando prioridade à liquidação das dívidas existentes, sem negligenciar as necessidades que surgem da missão do Corpo de Bombeiros, a preocupação com o foro financeiro é permanente. As necessidades identificadas no dia-a-dia representam um maior peso na balança, comparativamente às atuais fontes de financiamento.

Mantendo presente esta preocupação, continuaremos a solicitar o apoio indispensável da comunidade para auxiliar a missão dos nossos Bombeiros, procurando, em simultâneo, garantir a estabilidade financeira.

Por outro lado, somos diariamente confrontados com a dificuldade afecta aos recursos humanos e que se prende a uma trajetória, cada vez mais evidente, de quebra na disponibilidade da comunidade para o voluntariado, nomeadamente no que toca à causa humanitária. Em paralelo, perante o surgimento de melhores oportunidades externas, somos, por vezes, confrontados com a indisponibilidade, de forma totalmente compreensível, legítima e justificada, de alguns dos nossos Bombeiros, que cessam o vínculo laboral com a Associação, mantendo-se, em larga maioria, apenas enquanto voluntários, o que, em contraponto, nos ocasiona enormes dificuldades perante a necessidade de conseguir colmatar essas saídas, pelo facto de que a disponibilidade dos cidadãos para se juntarem ao nosso Corpo de Bombeiros é cada vez menor.

Este facto, a somar ao conjunto alargado de tempo que cada voluntário tem de cumprir na sua formação e atividade, resulta num constrangimento cada vez mais difícil de superar.

Estamos de pés e mão atadas, mesmo perante a evidência que temos de conseguir captar o interesse de mais voluntários e trabalhadores, pois também sentimos que, na maioria das vezes, estamos isolados a tentar lutar contra a maré com um barco de papel.

Contudo, temos de tentar e haveremos de conseguir.

A GUARDA: Em números, quantos bombeiros fazem parte da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários Egitanienses?

Fábio Pinto: No total, a corporação da Guarda é composta por 135 Bombeiros, onde se incluem mais de 100 elementos no quadro ativo, aos quais se somam os Bombeiros estagiários, cadetes e infantes.

A GUARDA: Como olha para a profissionalização dos bombeiros?

Fábio Pinto: A profissionalização dos bombeiros não é um tema inédito.

Devo assumir, em primeira mão, que a criação e aumento das Equipas de Intervenção Permanente, são a evidência de um bom caminho que tem sido percorrido face ao paradigma atual.

Contudo, as mesmas pecam por não assegurar uma carreira definida, apesar de serem compostas por Bombeiros profissionalizados, o que a somar à precariedade do regime, que não comtempla as horas necessárias para a missão, origina um constrangimento que deve e merece a atenção necessária por todos os responsáveis locais e centrais.

No futuro, é minha convicção que a primeira intervenção deverá ser sempre assegurada pela componente profissional, e, somente depois ser completada por voluntários, cuja tarefa não deve, em momento algum, sair desvalorizada, pois a sua entrega, disponibilidade e espírito de sacrifício são exemplares e motivo de orgulho.

Esta evidência, como é óbvio, reforça a importância do tema.

Embora já algum caminho tenha sido percorrido, ainda muito mais haverá para percorrer.

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