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Antigo combatente morreu com mais de 90 anos

Testemunhos da Guerra em Vale de Estrela, Marmeleiro e Pero Soares

Em Vale de Estrela, no concelho da Guarda, o habitante Carlos Pires lembrou ao Jornal A Guarda que o avô, António Pires, combateu na Grande Guerra. “Ouvi dizer à minha mãe que o meu avô também andou na guerra de 14, em França, que passou lá muito mal e muita fome. A guerra foi no tempo da miséria e também ouvi dizer que passou por lá muitos trabalhos. O meu avô morreu com 90 e tal anos. Ele já era casado e tinha cá a mulher e os filhos”, contou. Segundo Carlos Pires, quando o avô estava nas linhas de combate, em França, “a família rezava em casa e também ia para a igreja rezar por ele, porque era uma guerra muito complicada”. “Eu ainda o conheci. Era um senhor alto e magrinho. Teve 13 filhos”, concluiu.
José Marques, de 83 anos, residente no Marmeleiro, no concelho da Guarda, lembrou ao Jornal A Guarda que três homens da terra integraram o contingente que esteve na França. “Estiveram lá o José Joaquim Fontes, que foi meu sogro, o irmão Manuel Joaquim Fontes, e o Manuel Pires. Conheci-os a todos”, disse . E acrescentou: “O meu sogro passou por lá muitos trabalhos. Ele não contava grandes histórias de lá. Ele contava que passavam de tudo e que havia horas de tudo, mas mais de fome do que de fartura”.
Os três combatentes do Marmeleiro “regressaram todos bem e não trouxeram lesões físicas”. “As famílias rezavam cá muito por eles e, graças a Deus, vieram bem. Na igreja também pediam pelos soldados que andavam na guerra. Eu era uma criança e lembro-me de o senhor padre pedir por eles”, concluiu José Marques.
De Pero Soares, no concelho da Guarda, foram dois soldados para a guerra: o Filipe e o Manuel Lourenço. Ambos regressaram vivos. Na aldeia é lembrado Manuel Lourenço, o último a morrer. “Quando regressou tinha muitas mazelas (físicas) mas ainda foi moleiro durante muitos anos. No entanto, devido às mazelas da guerra, cegou e teve que deixar de trabalhar”, recorda Maria Angelina Lopes, residente na aldeia, que ainda conheceu o ex-combatente.
De acordo com a mesma habitante, os familiares do soldado foram morrendo e apenas restou uma filha, que foi professora regente em Pero Soares, que faleceu há cerca de 3 anos. A filha cuidou do pai e quando ele morreu “informou as Forças Armadas e foi sepultado com honras militares e, na sua sepultura, foi colocada uma lápide” da Liga dos Combatentes. “Todos os anos, nos Finados, vai um representante das Forças Armadas a colocar flores na campa”, informou Maria Angelina Lopes.

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