Memórias do 25 de Abril de 1974 na Guarda
José Albano Ferreira, mais conhecido por Zé Albano, Sargento-Mor da GNR na reforma, conhecido no meio poético pelos seus acrósticos, de 64 anos, foi um dos militares de Abril de 1974. Ao tempo, era Cabo de Transmissões no Regimento de Infantaria 12 (RI 12), sediado na cidade da Guarda, onde cumpriu o Serviço Militar Obrigatório, entre Agosto de 1972 e Dezembro de 1974.
José Albano Ferreira, actual colaborador do Jornal A Guarda, contou que na noite de 24 para 25 de Abril de 1974 entrou tarde no quartel “por ter estado numa patuscada com uns amigos, em Vila Cortez do Mondego”. “Ainda não me tinha deitado e já estava a chegar ao meu posto, via telefone, a comunicação de prevenção rigorosa para as forças do quartel”, contou. E acrescentou: “Durante a manhã do dia 25 de Abril, nas rádios nacionais não se ouviram notícias, apenas música desconhecida, que se veio a saber, mais tarde, que era de intervenção, e comunicados da 5.ª Divisão do Estado Maior das Forças Armadas, onde se apelava à calma. Do interior do quartel avistavam-se alguns elementos ligados à PIDE/DGS (Polícia Internacional e de Defesa do Estado/ Direcção Geral de Segurança), que também tinha sede nesta cidade, no jardim que fica na Rua Batalha Reis (junto do actual edifício da EDP), cuja pretensão era observar as movimentações no interior do então RI 12”. “Depois do almoço”, prossegue José Albano Ferreira, “na Messe de oficiais, o então Capitão Augusto José Monteiro Valente, já falecido, depois de ter feito um disparo, deu voz de prisão ao primeiro comandante Coronel António José Ribeiro e ao segundo comandante Tenente-Coronel António José Teixeira. Isto ter-se-á passado dentro da Messe, não tendo sido do conhecimento das tropas. Só por volta das 14.00 horas, pela voz do Alferes Miliciano Costa Gomes, foi mandada formar a Companhia Operacional, que saiu com destino e com a missão de ocupar a principal fronteira terrestre do país – Vilar Formoso”. “A verdadeira missão da coluna militar só chegou à totalidade das tropas numa reunião que se fez após uma paragem no Alto de Leomil. Ao fim da tarde, já em Vilar Formoso, ocupou-se o edifício da PIDE/DGS sem qualquer confronto. Vedou-se a entrada e saída de veículos e passageiros, bem como o trânsito ferroviário”, lembra o antigo Cabo de Transmissões no RI 12. De acordo com José Albano Ferreira, “já na manhã de 26 de Abril, houve uma certa tensão entre o comandante do Posto da GNR local e o comandante da Companhia, o então Tenente Orlindo Pereira. Após a mediação de instâncias superiores, tudo se resolveu sem violência”. “Durante a noite de 25 para 26 de Abril, foi com muito regozijo que se ouviu o então General Spínola dar a comunicação ao país, em representação da Junta de Salvação Nacional, que se formou nesse mesmo dia 25. As tropas em Vilar Formoso foram substituídas a meio da manhã de 26 e a chegada à Guarda deu azo a uma das maiores manifestações de alegria e regozijo conhecidas nesta cidade, que decorreu em frente à porta de armas do RI 12, ocupando todo o Jardim José de Lemos”, disse ao Jornal A Guarda.
Naquela época o RI 12 tinha cerca de 200 militares, entre oficiais, sargentos e praças, que “davam vida à Guarda, nomeadamente ao Mercado Municipal onde se abasteciam as Messes de Oficiais e de Sargentos, bem como o Rancho Geral”, recorda José Albano Ferreira. Nos dias seguintes ao 25 de Abril “a tropa começou a ser vista com outros olhos, situação que se manteve até finais de 1974”. “Depois dessa época, veio a piorar, devido a excessos e desmandos de certas correntes progressistas no meio militar. Na Guarda, o RI 12, posteriormente, passou a ser um Destacamento do Regimento de Infantaria de Viseu, mas durante pouco tempo, até ter o nome de Batalhão de Infantaria da Guarda, que vigorou até à sua extinção, em 1982”, explicou.