A degradação e o abandono do Centro Histórico da Guarda, agudizado pelo incêndio que ocorreu, na noite de 31 de Agosto, numa casa da Rua da Torre, foram aspectos apontados como uma “questão de perigo público”, por Adelaide Campos, na reunião da Câmara da Guarda, desta segunda-feira, 9 de Setembro.
A vereadora do PS adiantou que perante o que se passou “é preciso fazer alguma coisa”. E acrescentou: “Para mim foi espantoso não se ter sido criado ali um sobressalto cívico, relativamente aquilo que aconteceu”.
Recordou o incendio de 1988 nos Grandes Armazéns do Chiado, em Lisboa, em que também arderam mais 18 edifícios antigos e históricos, adiantando que “durante cerca de 25 anos o Chiado ficou praticamente em situação de coma, sem comércio, sem casas, ficou uma zona praticamente abandonada”. Disse que só recuperou “porque houve um projecto excelente de Siza Vieira e porque Lisboa é Lisboa”.
Para Adelaide Campos “se na Guarda, naquele dia 31 de Agosto, tivesse ardido o Centro Histórico e podia ter ardido tudo, a Guarda dificilmente se recuperaria desta situação”.
A vereadora salientou que “tudo o que diz respeito à zona da Rua Rui de Pina, Rua Sacadura Cabral, Rua da Paz, Rua António Júlio, Rua da Fraternidade, Rua dos Cavaleiros, está cheia de casas abandonadas dentro das quais há toneladas e toneladas de lenha seca, onde basta chegar uma pirisca, que de um momento para o outro arde tudo”. Considerou que “o aspecto exterior dessa zona é absolutamente terrível”. E acrescentou: “Se nós achamos que aquelas duas casas na Praça Velha são horrorosas e conseguem destruir só por si, só a sua existência, toda a majestade, toda a grandiosidade da Praça Velha, toda a zona restante do Centro Histórico da Guarda está absolutamente abandonado e é terrível estar a olhar para aquilo”.
“Eu acho que nós, enquanto cidadãos e a Câmara enquanto Câmara Municipal e a Protecção Civil enquanto Protecção Civil precisamos de tomar medidas e avançar no sentido da recuperação de tudo isto”, referiu a vereador do PS.
Adelaide Campos ressalvou que “é evidente que isto não começou há três anos, nem começou há cinco, nem começou há dez, é uma degradação que se vem sentindo desde a última vez que foi mexido o Centro Histórico, mas é preciso fazê-lo”.
A vereadora adiantou que “seguramente não existe nenhuma capital de distrito deste País que esteja tão abandonada, que esteja tão degradada, que esteja tão feia e tão perigosa”. E acrescentou: “Se nós não cuidamos da nossa história não teremos futuro”.
Perante a desolação que constatou ao percorrer a zona do Centro Histórico, Adelaide Campos considera que é urgente “fazer a limpeza de todos os interiores, telhar os telhados e cuidar das portas” para dar um ar mais airoso a todo o Centro Histórico.
Chamou também a atenção para a casa da Janela Manuelina que tem as paredes cobertas de cimento, uma situação que acredita “não tenha sido autorizado pela Câmara”, mas que é crime e “não pode ser feito”. Para Adelaide Campos “é preciso por em prática o regulamento existente”.
O Presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, considerou que “não se pode fazer política à custa dos incêndios, sejam urbanos, sejam rurais”. Sobre o incêndio de 31 de Agosto disse que “foi acompanhado desde a primeira hora pela Protecção Civil Municipal”. Referiu que já decorreram vistorias técnicas para, nos termos da lei, se poder salvaguardar a consolidação estrutural do edifício e naturalmente a protecção, a salvaguarda das pessoas naquele local”. Referiu que, recentemente, foi aprovado um regulamento de apoio à requalificação e recuperação de edifícios nos núcleos históricos que já foi publicado em Diário da República, para apoiar os proprietários na reabilitação das coberturas e das fachadas”. Lembrou ainda que a autarquia adquiriu alguns edifícios para serem feitas 50 novas habitações no Centro Histórico, uma situação que “está dependente da aprovação do IRHU nas verbas PRR” e também que a autarquia tem pronto o projecto para as casas da Praça Velha e que está a desenvolver os projectos para o antigo teatrinho dos bombeiros nas traseiras dos Balcões e para a zona da judiaria.
“Estamos a recuperar o tempo perdido” referiu Sérgio Costa, ao mesmo tempo que recordou que “o Centro Histórico, como bem disse a senhora vereadora, não se degradou nestes últimos três anos, degradou-se em mais de vinte anos e não houve o estancar do processo”.