Acredito mais nos “aldrabões” do que nos governantes

Digo isto com muita frequência, alguns atingem onde eu quero chegar e soltam uma gargalhada, outros calam-se esperando pelo que vem a seguir e em certos casos até amuam.

É evidente que toda a classe política, seja ou não a dominante, têm um rótulo aos olhos da populaça, bem ligado à trafulhice, devido aos desmandos resultantes da semântica, como agora se diz na política, que mais não é do que dizer uma coisa e praticar outra.
Mas deixem-me clarificar o que afirmo. Na primeira metade do século passado morava na aldeia do Baraçal, no concelho de Celorico da Beira, um homem que tinha de nome António Bernardo, mas que por um ato que os anos já apagaram, apanhou o apodo de “aldrabão” e assim ficou enquanto viveu, como António “aldrabão”, ou “aldrabão velho”, com o andar dos tempos.
A particularidade mais conhecida deste aldeão foi a de ser o homem da região que mais filhos registou, há quem me diga que ultrapassou os trinta, de dois casamentos claro. Nem os seus próprios descendentes o sabem garantir, pois os mais novos não chegaram a conhecer os mais velhos e em muitos casos eram mais velhos os sobrinhos do que os tios, o que gerava certa barafunda na identificação.
De toda a sua descendência, conheci alguns filhos, um que ainda é vivo, vários netos e uns tantos bisnetos. Tenho relações de amizade com uns quantos, o que me permite que em certas ocasiões se evoque a alcunha de “aldrabão” como herança e arte, como se lembra o feito deste homem do campo, pelo que fez para elevar a população. Penso até que mais do que ele, só o padre Francisco Costa de Trancoso.
A sua descendência, além de se espalhar pelos quatro cantos do Mundo em busca de pão mais branco, a que por cá ficou também fez pela vida, tendo muitos deles, atingido patamares de muito nível na vida socioeconómica do país.
Sem que nada tenha contra esta gente, acredito no que eles me dizem, os que conheço claro. Acrescento ainda que os restantes segundo o que vai chegando aos ouvidos, em pouco ou nada são diferentes. Como nunca nenhum deles me mentiu de modo a que eu me tenha apercebido, sinto-me na obrigação de acreditar em todos eles.
A razão que me leva a acreditar neles e sem receio de qualquer engano, é simples, pois nenhum deles que eu conheça, necessita do meu voto para singrar na vida, bem como na carreira que abraçaram. Não sendo submetidos a sufrágio, não precisam de andar de porta em porta com promessas de um mundo novo.
Os governantes fazem o contrário, limitam a vender gato por lebre, para que o povo iludido os coloque no banco do Poder, mesmo com currículos desprovidos de tarimba e de Coimbra. É extremamente chocante para mim ver descarrilar do seu trilho pessoas em quem acreditei e avalizei. Pior ainda fico quando me atribuem culpas no cartório, uma vez que no meu ponto de vista, tenho é razões para ficar incomodado pela traição de que fui vítima.
Eu costumo comparar o Poder ao bacalhau, ambos têm mil e uma maneiras de nos satisfazerem, só que o primeiro na maioria das vezes é servido sem o seu tempero essencial, que é a decência nos atos, pois no palavreado usam a tão badalada semântica para o valorizar.
Porque falo assim hoje? Em primeiro porque estou desiludido com muitos e em segundo lugar para dar os “títulos” a quem os merece, ou seja, os aldrabões estão no Poder.
Este meu modo de pensar, já serviu algumas vezes de brincadeira, quando me junto com um “aldrabão” amigo, mas que agora é conhecido por “Toninho Brasileiro”.

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