O recente conhecimento de um livro de Fernando Lobo, A justiça dos equinócios,
publicado pela Editora Calçada das Letras já neste ano de 2014, permite-me fazer alguns comentários sobre o tema em epígrafe __ o qual me parece merecê-los, assim como a obra, em si mesma, justifica este gostoso testemunho de apreço.
De acordo com os elementos insertos no volume__ ainda que não muito precisos __ Fernando Lobo será um homem já de certa idade e autor de uma obra poética que, com este, constará de pelo menos dez títulos. O livro é publicado com algum apoio __ pelo menos conhecimento e estímulo __ da Universidade Sénior de Queluz, em paralelo com a Tertúlia Kafé – Kafka que funcionará naquela terra, pertencente ao concelho de Sintra.
Editorialmente dá ideia que este A justiça dos equinócios terá inaugurado a Colecção Naif na Editora Calçada das Letras que é uma chancela já com algum passado e um crescente prestígio no nosso meio literário. Na badana da contracapa anunciam-se cinco novos livros, o primeiro dos quais de Henrique Madeira __ a quem, em parceria (ou ex aequo com Carlos Eugénio Santos Silva, este livro é dedicado.
A justiça dos equinócios é um volume de 114 páginas e inclui 88 poemas, contando com o da contracapa. Ele não tem propriamente um índice, pois não pormenoriza a localização no livro de cada um dos poemas que o constituem, antes se limitando a fazê-lo relativamente aos grandes conjuntos em que Fernando Lobo estrutura a sua obra.
O autor é certamente um homem metódico e organizado, pelo menos deu uma ordenação muito clara ao seu trabalho, tendo-o dividido em 5 grandes partes ( mais um Epílogo ). Estas chamam-se, sucessivamente, Livro das miragens, Livro da ironia, Livro dos paradoxos, Livro do tempo e Inquietação das falas. Esta primeira divisão desdobra-se depois, internamente __ com excepção dos Livros dos paradoxos e do tempo. Estas divisões são de extensão variável, sendo a maior, claramente, a última. Inquietação das falas subdivide-se em 7 partes e contém 44 poemas, exactamente metade da totalidade da obra.
O facto mais saliente deste A justiça dos equinócios é, no entanto, em minha opinião __ e foi este aspecto que me levou a empunhar a pena __, o tratar-se, na sua maior parte, de poesia retirada de livros anteriores do poeta. Não que essa informação seja explicitamente apresentada, mas parece-me legítimo concluir nesse sentido a partir das 74 notas que encerram o volume. Eu poderei ter cometido alguns erros __ dado que há algumas imprecisões de método, sobretudo no que se reporta ao uso de números árabes e romanos, designação de alguns livros e data da respectiva edição __ mas, parafraseando a célebre carta de 13 de Janeiro de 1935 de Fernando Pessoa para Adolfo Casais-Monteiro, estes nunca poderão ser muito grandes.
E então é assim, oh meus amigos. Dos 88 poemas constantes deste livro apenas 15 serão originais, todos os outros provindo de conjuntos já anteriormente publicados. 16 vieram de um livro de Dezembro de 2005, Natureza inquieta ( toda a primeira metade do Livro da ironia, 3 do Livro dos paradoxos, os restantes distribuídos pelas outras divisões); 14 vieram do livro inicial, de Outubro de 2001, Passos do meu olhar uma vez ou outra referido sem o possessivo __ , e outros tantos de Entre duas águas, de Novembro de 2004. Toda a segunda parte do Livro das Ironias, com excepção de 3 inéditos, provém deste título. Com 12 poemas encontramos um livro de Fevereiro de 2004, Adormece-me o corpo no veludo das almas e com 10 poemas, No corpo do tempo, de Abril de 2006 ( por uma vez, julgo que por lapso, é referida a data de Abril de 2005 ). Realce-se que todo o Livro do tempo tem esta origem. Os restantes 7 poemas provêm de 4 livros diferentes: 3 de O murmúrio das baladas, Fevereiro de 2004; 2 de Miragens da seda, de Fevereiro de 2008; 1 de Folhas de cancioneiro de 2007 e 1 de Flauta de vento, de Fevereiro de 2008. Os poemas do epílogo são todos inéditos.
Pode, assim, concluir-se que em A justiça dos equinócios Fernando Lobo revisitou __ e de algum modo republicou __ os nove títulos de poesia que terá dado à luz já neste século, entre Outubro de 2001 e Fevereiro de 2008. É um exercício legítimo, sobretudo quando essa informação oficinal não é escondida do leitor. (Conheço casos em que esse salutar escrúpulo primou pela ausência). Naturalmente poderíamos preferir que o poeta fizesse obra nova, mas isso é lá com ele. No fim de contas nós é que duplamente lucramos ao ficarmos com uma ideia do que foi a criatividade poética de Fernando Lobo ao longo do tempo. De algum modo poderemos mesmo pensar que é esta a forma como o poeta vê, agora, a sua obra. E é ele o supremo juiz.
Termino felicitando o poeta e a editora que a público trouxe esta quase centena de poemas. Fernando Lobo é divertido, irónico, as suas imagens são ricas e abundantes, não exagera em epígrafes ou dedicatórias, é um poeta informado e culto. Chegamos ao fim com a sensação de que ele estará de bem com a vida __ pelo menos nós ficamos, é este o meu testemunho, de bem com a poesia. Digamos que a justiça dos equinócios se manifesta em todas as latitudes __e é este o meu cumprimento ao poeta ( que, pessoalmente, não conheço ). Se o espaço o permitisse com gosto exemplificaria. Fica o convite à descoberta da sua poesia.