A CULPA MORREU SOLTEIRA

Ninguém quer a culpa para viver, por isso se afirma que ninguém quer casar com ela. Morre solteira mesmo que alguém dela tenha abusado e se tenha servido para vários prazeres mundanos.

Convivemos com ela no escuro, como no anonimato, partilhando algo que muitas das vezes, mesmo contra a nossa intenção corre mal, pois à partida não era esse o nosso propósito, só que sem que se esperasse virou-se o bico ao prego.
Aí alguém nos mostra a realidade, colocam-nos a culpa na frente e aí temos de nos virar para outra senhora, que pelo nome até me parece prima, que é a desculpa, que nos serve para maquilhar um pouco a nossa imagem, muito embora se entenda que nada nos fica melhor no rosto do que a vergonha, que quando se perde e sem ser preciso muito para isso, leva um longo tempo a recuperar. Compara-se ao crime: quem foi uma vez condenado, fica marcado para sempre. Já o mesmo não acontece com o pecado, pois aparece sempre quem nos tire esse encargo da consciência.
Sendo certo que por tudo isto se diz que a culpa morreu solteira, não é menos verdade de que também não deixou filhos, pois por onde quer que eu ande, nunca encontrei um filho seu e se me atrever a perguntar, apenas tenho como resposta: – Eu não sou o culpado! Mas também ninguém me garante assertivamente quem é. Livram a água do capote e indiciam alguém no emaranhado de uma multidão.
Tudo o que acabei de afirmar se passa em todos os tabuleiros da nossa vida social. Se nos deparamos com o êxito, o feito é nosso. Por outro lado se nos aparece um fracasso, afirma-se sempre que isso se deve à falta de rigor e aos desmandos de quem esteve anteriormente ao leme deste barco, que o deixou a meter água e que só ainda navega à custa de alguns remendos que aqui e ali lhe fomos colocando.
É muito vulgar, de que quando se toma conta de qualquer causa, sempre o novo timoneiro entende por bem modificar algo, estragando muitas vezes o que pretendia melhorar. Só que é outro tempo, há outra visão das coisas e na maioria das ocasiões há a necessidade de retirar do lugar quem está dentro do assunto para outro lugar que lhe seja alheio, pois só assim poderá deixar de ser um estorvilho para quem tem de decidir um destino como muito bem lhe apraz.
Estas alterações provocam muito o populismo, onde a devida populaça embarca e que fica contente com o acessório para deixar ir o essencial por água abaixo.
Por outro lado o rigor mete medo. Anteriormente era uma virtude porque fazia bater tudo certo. Hoje essa faculdade vê-se na tolerância, onde quem não sabe e quem não quer não são responsabilizados pelo rumo que tomam e que tem como lema: “Deixa andar”.
A realidade que aqui se coloca, demora sempre uns meses e até anos a aparecer, sendo certo que não são preciso dúzias de anos para virem à tona da água. Há sinais que depois de bem trabalhados e por quem sabe colocam tudo a nu. Embora haja quem ponha em causa a fiabilidade desses argumentos, afirma-se que tudo isto vem a destempo e que o pior já passou. No entanto quem assim alega não deixa de mostrar as preocupações que sente e o modo como deve sair delas.
No país em que vivemos fatores desta natureza são muito frequentes, não têm a exclusividade de qualquer classe ou desta ou daquela bandeira, há muita gente a espalhar o prometido, sem que o devido nunca mais apareça.
Estou a falar com toda a clareza, sem que tenha um alvo certo, pois são tantos!
Qualquer semelhança que aqui possa existir com qualquer tabela classificativa, onde argumente qualquer caraterística do que é sustentável, é pura coincidência, muito mais ainda se falarmos no número trezentos e oito que, na segunda semana deste mês de Maio tanto aborreceu a minha vizinhança.

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